Leonor Cipriano sai em liberdade condicional. "Fui condenada sem provas"
A mulher que foi condenada pelo homicídio da filha Joana saiu da cadeia após 15 anos presa. Afirma estar inocente e culpa a polícia. "Não matei a minha filha. Só confessei porque fui agredida na PJ", disse ao JN.
Leonor Cipriano deixou esta quinta-feira de manhã o estabelecimento prisional de Odemira onde cumpriu pena de prisão pelo homicídio da filha Joana a que foi condenada em coautoria com o irmão João Cipriano. A mulher obteve a liberdade condicional após 15 anos passados na cadeia como punição pela morte da filha em 2004. Leonor e o irmão foram condenados a 16 anos e 8 meses de prisão por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. O corpo da menina de 8 anos nunca foi encontrado.
À saída da cadeia de Odemira, Leonor Cipriano falou ao Jornal de Notícias. "Fui condenada sem provas. Não matei a minha filha. Nunca lhe faria mal. Só confessei tudo porque fui agredida na PJ de Faro", afirmou.
Em novembro de 2005, mais de um ano após a criança ter desaparecido, o tribunal de Portimão considerou ter ficado provado que os dois irmãos eram culpados dos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Leonor foi condenada a 20 anos e quatro meses de prisão e João a 19 anos e dois meses, penas mais tarde reduzidas após recursos para tribunais superiores, o trânsito em julgado ocorreu em março de 2008. Os juízes de Portimão apontaram que Leonor e João mataram a criança e depois cortaram o corpo "para escondê-lo e não por prazer", lia-se no acórdão.
O tribunal deu como provado que, no dia 12 de setembro de 2004, Joana Guerreiro, 8 anos, regressou a casa com o leite e as conservas que a mãe tinha pedido para ir comprar ao café da aldeia e foi espancada. Leonor e João "agiram com plena consciência das consequências dos seus atos ao espancarem violentamente a pequena Joana", referiu o acórdão condenatório, em que se concluía que ambos usaram da "sua força desproporcional relativamente à de uma criança de 8 anos só parando (de bater) quando a mataram, apesar de ela sangrar pelo nariz, boca e têmpora".
Nunca se apurou em concreto o motivo para a agressão. A acusação do MP apontava para a tese de Joana ter surpreendido os dois familiares a praticarem relações sexuais no sofá da sala, mas tal não ficou provado. Após a morte, os irmãos desviaram as atenções para um possível rapto e quiseram apagar todos os vestígios da morte da menina.
A decisão foi polémica. Não havia corpo nem os arguidos confessaram em tribunal os factos. Cinco polícias que investigaram o caso, incluindo Gonçalo Amaral, foram depois julgados por agressões a Leonor Cipriano durante o período em que estava detida preventivamente. O julgamento decorreu em maio de 2009, no tribunal de Faro, e culminou na absolvição de três inspetores, Leonel Marques, Paulo Pereira Cristóvão e Paulo Marques Bom, e com a condenação a ano e meio de prisão, com pena suspensa, de Gonçalo Amaral por falsidade de depoimento e de António Nunes Cardoso. Daí Leonor Cipriano dizer que só confessou à PJ o crime por ter sido vítima de tortura.