O Ministério da Saúde assegurou por escrito aos médicos que o Governo não tem intenção de obrigar os clínicos que se formem no Serviço Nacional de Saúde a ficar no serviço público por um período mínimo de tempo..Numa carta enviada ao Sindicato Independente dos Médicos (SIM), a que a agência Lusa teve acesso, o gabinete da ministra Marta Temido refere que "o Ministério da Saúde conduz a sua ação governativa pelo programa do Governo no qual a eventual opção pelo estabelecimento de uma obrigatoriedade de permanência no SNS (...) não se encontra prevista"..O gabinete da ministra acrescenta que uma medida legislativa deste tipo teria "necessariamente" que ser negociada com os sindicatos médicos, nos termos da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas..A carta endereçada ao secretário-geral do SIM surge em reposta a um comunicado e a uma reação do sindicato, que chegou a admitir uma greve de médicos internos, e que contestou declarações recentes da ministra sobre a retenção de recém-especialistas no SNS..Escreve ainda o Ministério que, apesar de preocupado com a fixação de médicos, "não significa que o Governo tenha intenção, no atual contexto, de obrigar os médicos recém-especialistas em formação a permanecer por um período mínimo no SNS após aquisição do respetivo grau de especialista"..Contudo, o gabinete da ministra relembra que o Governo tem vindo, em conjunto com a Ordem dos Médicos e com os próprios sindicatos, "a desenvolver medidas que fomentem a fixação destes profissionais -- não só no SNS mas também em zonas qualificadas como carenciadas", por exemplo através da revisão do regime de incentivos..Numa entrevista à TVI no início deste mês, a ministra aludiu à possibilidade de se estudarem formas de reter por um período de tempo os recém-especialistas no SNS após a conclusão do internato (a formação na especialidade)..Recentes declarações da ministra da Saúde motivaram também já reação da parte da Ordem dos Médicos, que na terça-feira pediu uma reunião urgente na sequência de afirmação e da atitude da tutela que "revelam uma total falta de respeito" e um "nível de desprezo nunca antes alcançado"..Fonte oficial da Ordem dos Médicos adiantou à Lusa que o Conselho Nacional da Ordem teve uma reunião extraordinária no domingo na qual foi decidido pedir um encontro urgente com a ministra da Saúde.."Na base desta decisão está um conjunto de atitudes e declarações ocorridos nos últimos meses e que revelam da parte da tutela uma total falta de respeito pelos médicos, com um nível de desprezo e desvalorização nunca antes alcançado", declarou a mesma fonte oficial da Ordem dos Médicos..A Ordem considera que a situação "ultrapassou o limite do aceitável"..No fim de semana, o bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães, escreveu no jornal Observador um artigo de opinião em que considerou "lamentável e inaceitável (...) a ingratidão do poder político para com as pessoas que todos os dias tornam o SNS possível, evitando que as más políticas tenham um impacto mais gravoso no terreno".."A recente entrevista da ministra da Saúde, Marta Temido, à TVI, sem o devido contraditório, foi mais um triste episódio de um mandato que é curto, mas que, infelizmente, está já repleto de momentos que em nada servem os doentes, os profissionais e o SNS", considerou Miguel Guimarães..Além da questão dos internos, Miguel Guimarães contestava declarações sobre o salário dos médicos e sobre a abertura de vagas para formação.