Hacker Rui Pinto em Évora. Prevista transferência para a cadeia dos polícias e políticos
O hacker Rui Pinto deverá ser transferido nos próximos dias para a cadeia de Évora, onde fica a aguardar em prisão preventiva novos desenvolvimentos do seu caso. Segundo fontes envolvidas neste processo, a cadeia dos polícias e políticos é o destino que "está neste momento em cima da mesa" e a ser tratado com os Serviços Prisionais, por ser "a solução que apresenta melhores condições de segurança e proteção" para Rui Pinto.
Como pretendido pelo Ministério Público (MP), o Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa decretou esta sexta-feira a medida de coação mais gravosa contra o assumido colaborador do 'Football Leaks', plataforma digital que tem denunciado casos de corrupção e fraude fiscal no universo do futebol. A defesa já anunciou que vai recorrer.
Quando ainda estava detido na Hungria, de onde foi extraditado na passada quinta-feira, Rui Pinto invocou o perigo que poderia correr caso viesse a ficar preso em Portugal - os ataques aos grandes do futebol tornaram-no persona non grata nestes meios poderosos. Na audiência pública, no Tribunal Metropolitano de Budapeste, pediu mesmo para não ser extraditado, alegando tratar-se de "uma questão de vida ou morte" que colocava em causa a sua segurança pessoal.
Conforme o DN já noticiou, as autoridades portuguesas, como o Ministério Público, a PJ, a PSP e a Direção de Reinserção e dos Serviços Prisionais (DGRSP), estão empenhadas ao máximo na segurança de Rui Pinto. As medidas de proteção começaram logo na vinda para Portugal, tendo Rui Pinto viajado em 1ª classe, isolado dos outros passageiros, com a proteção de uma brigada da PJ.
Em Portugal, antes de se saber a decisão do TIC, as autoridades estavam a preparar-se, quer para o cenário da prisão preventiva, quer para a libertação, mesmo em regime domiciliário. A PSP já tinha feito uma avaliação de risco e tinha prontas equipas do Corpo de Segurança Pessoal para acompanhar o hacker em permanência. "Depois de tudo o que tem sido dito e escrito, nada lhe pode acontecer", disse ao DN fonte próxima do processo.
Tendo a decisão sido de manter Rui Pinto preso, o destino de Évora está a ser acertado com os Serviços Prisionais, com o acordo da Defesa. Este estabelecimento, onde esteve detido o ex-primeiro-ministro José Sócrates e está agora também o ex-ministro socialista Armando Vara, permite que o hacker possa ficar numa cela isolada e com condições no dia-a-dia superiores às de outras cadeias.
Segundo a DGRSP, o Estabelecimento Prisional de Évora foi criado em 1973 para "o internamento de detidos e reclusos que exercem ou exerceram funções em forças ou serviços de segurança, bem como detidos e reclusos carecidos de especial proteção". Os últimos dados oficiais disponíveis indicam que tem 41 presos, para uma lotação de 35.
Apesar de alguns dos reclusos estarem em camaratas, a maioria, cerca de 90%, estão em celas individuais. Foi o caso de Sócrates, agora de Vara, do ex-diretor do SEF, Manuel Palos, do ex-procurador Orlando Figueira e será também o de Rui Pinto.
Há várias infraestruturas: uma sala de atividades, um campo de futebol e um ginásio com mesas de ténis de mesa, xadrez e outros jogos e ainda uma biblioteca que tem perto de 800 livros e uma capela para os religiosos. Não são permitidos telemóveis nem computadores.
Rui Pinto está indiciado por seis crimes - dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo, um de ofensa a pessoa coletiva e um de tentativa de extorsão, envolvendo a Doyen e o Sporting, mas pode também vir a ser requerido o seu testemunho sobre as informações que recolheu e que foram divulgadas no site Football Leaks.
Neste caso, poderão ser extraídas certidões para outras investigações, como é o caso dos e-mails do Benfica. O clube da Luz já enviou um requerimento ao Ministério Público a solicitar "mais informação sobre a prova produzida" no âmbito do processo e que, caso se justifique, "essa prova seja utilizada num âmbito mais alargado de investigação".
Também a Autoridade Tributária (AT) estará a investigar suspeitas de fraude fiscal por parte de clubes de futebol, no âmbito de inquéritos que estão a ser coordenados pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e, segundo noticiou a SIC, terá sido também estabelecido contacto com Rui Pinto.
A informação sobre esta investigação da AT/DCIAP surgiu na mesma altura em que Rui Pinto estava a ser ouvido em tribunal, no âmbito doo inquérito da PJ - revelando uma aparente descoordenação entre estes órgãos de polícia criminal.
A PJ já tem na sua posse o material informático que foi apreendido a Rui Pinto na sua casa em Budapeste. Segundo revelou à Lusa fonte judicial, o hacker mostrou-se disponível para "colaborar" com a autoridades portuguesas, o que pode significar que os inspetores terão acesso facilitado a todas as informações que Rui Pinto foi juntando nos últimos tempos - e que, a ser verdade o que tem sido afirmado pela Football Leaks, abalar ainda mais o mundo do futebol.