Europol: "Gangues de motards intimidam e são violentos"
Os gangues de motards "intimidam e usam a violência" e esse comportamento "é intrínseco à subcultura destes grupos", avisa a Europol, em resposta a um pedido do DN para caracterizar este fenómeno criminal que marcou a atualidade portuguesa nos últimos dias, com a detenção de 59 membros dos Hells Angels.
De acordo com esta agência europeia, "a principal ameaça à segurança pública dos gangues de motociclistas fora da lei resulta da sua propensão para utilizar formas extremas de violência. Isso inclui o uso de armas de fogo e dispositivos explosivos, como granadas". De uma forma geral, esta atitude "serve para exercer controlo sobre os membros do grupo, gangues rivais e outras pessoas, como por exemplo vítimas de extorsão".
A Europol destaca como principais campos de atuação destes gangues o tráfico de droga (principalmente cocaína e anfetaminas), extorsão, tráfico de seres humanos, branqueamento de capitais, tráfico e posse de armas de fogo. "A violência é um instrumento essencial para os gangues organizados de motards atingirem os seus objetivos e estes grupos são frequentemente sujeitos a investigações relacionadas com estes casos", sublinha a agência europeia de polícia.
Hells Angels, Bandidos e Outlaw são, segundo a Europol, os maiores gangues de motards do mundo. Na Europa quem domina são também os Hells Angels e os Bandidos, ambos de origem norte-americana, mas também os Gremium. "Os motivos para a expansão destes gangues é diferente de caso para caso, complexa e, por vezes, tem uma explicação regional", é assinalado.
No caso dos Hells Angels, a agência europeia tem 471 núcleos registados (charters) em todo o mundo. "Estamos cientes da presença do Hells Angelsem vários Estados membros da União Europeia, com especial incidência na Europa Central e do Norte (Alemanha, Benelux, Escandinávia). Além disso, podemos ver que o gangueHells Angels se está a expandir na Europa Oriental e nos Balcãs Ocidentais. Na Europa em particular, os gangues de motards tradicionais permanecem relativamente estáveis em termos de "poder". No entanto, temos assistido a algumas mudanças de poder, a nível local, entre os chapters existentes", adianta.
A Europol assinala ao DN que, além destes grupos de motards, "deve ser assinalada, como tendência, a existência de vários gangues de rua e clubes de boxe que estão a utilizar estruturas e insígnias idênticas aos gangues de motards, embora não os sejam. Alguns destes grupos já estabeleceram chapters a nível internacional, embora frequentemente só atuem a nível regional ou nacional. Estes grupos em particular permanecem extremamente voláteis no que diz respeito à sua criação e recrutamento. Ou seja, os chapters podem abrir e fechar da noite para o dia".
Questionada sobre que medidas tem tomado para apoiar os Estados membros a combater este fenómeno criminal, a Europol diz que tem um papel "fundamental no combate às atividades criminosas destes gangues fora-da-lei". Explica que "para ajudar os seus parceiros de forma mais eficaz e seguir uma abordagem multidisciplinar e horizontal, o seu plano concentra-se nos grupos de crime organizado, e não apenas nos crimes cometidos por gangues de motociclistas fora-da-lei".
E como é que isso se concretiza? Através de "apoio na análise operacional durante as investigações; identificando as estruturas e os membros dos gangues; identificando novos fenómenos nesta subcultutura e detetando novas tendências através de análise estratégica; informando o público e as autoridades sobre as ameaças; organizando conferências de peritos e cursos de formação por toda a Europa; facultando apoio de alto nível às autoridades policiais, judiciais e aos governos; apoiando a plataforma da Europol dos peritos em gangues".
Nesta semana, a diretora executiva da Europol, Catherine de Bolle, esteve em Portugal e não deixou de elogiar a operação da Polícia Judiciária contra osHells Angels, que classificou de "frutuosa", assinalando a colaboração da agência e de outros países europeus.
No dia 11 de julho, a PJ deteve 59 elementos daquele grupo, dos quais 39 ficaram em prisão preventiva por indícios de associação criminosa, tentativa de homicídio, ofensa à integridade física, posse e tráfico de armas proibidas e tráfico de droga.