Furacão Lorenzo destruiu o porto das Flores. Mais de 50 pessoas desalojadas

O número de pessoas realojadas nos Açores, devido à passagem do furacão Lorenzo, foi de 53. Proteção Civil desativou plano de emergência e o abastecimento da rede elétrica já foi normalizado.
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A passagem do furacão Lorenzo pelo arquipélago dos Açores provocou a destruição do porto das Lajes das Flores. Em declarações ao Açoriano Oriental, o capitão do Porto de Santa Cruz das Flores, Rafael da Silva, explicou que "o molhe do porto ficou destruído e há uma série de edifícios que estão destruídos. Mas há poucos minutos a Proteção Civil desativou o plano de emergência e ao abastecimento da rede elétrica já foi normalizado.

As imagens são desoladoras, mas agora é começar a voltar à normalidade. Nas Lages, embarcações e contentores não resistiram à força do mar. A destruição do único porto comercial da ilha das Flores é, até agora, o maior dano material provocado pela passagem do Lorenzo pelos Açores. Rafael da Silva afirma que agora é hora de "avaliar o que se pode aproveitar e enfrentar o problema logístico que se irá colocar às ilhas do Grupo Ocidental e para isso a Autoridade Marítima está disponível para colaborar com todas as entidades". Nesta altura a Autoridade Marítima está a avaliar eventuais estragos que possam ter acontecido no cais das poças.

A destruição no porto das Lajes "põe em causa aspetos fundamentais, como o abastecimento à ilha das Flores", disse esta manhã o presidente do Governo Regional dos Açores, citado pelo jornal Açores 24.

Perante o cenário de destruição que o furacão Lourenzo deixou no porto das Lajes, Vasco Cordeiro afirmou à SIC Notícias que "não é uma visão agradável", mas também sente a vontade de fazer o que "os açorianos fazem há quase seis séculos", que é reconstruir o que o mar destrói.

Já ​​​​​​numa nota divulgada pelo Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro destacou o facto de a passagem do furacão Lorenzo pelo arquipélago, na madrugada e manhã desta quarta-feira, não ter provocado vítimas.

"A segurança das pessoas foi o principal. O facto de, até este momento em que estou a falar, não haver vítimas a registar, deve-se, em primeiro lugar, à responsabilidade com que cada um dos açorianos encarou este momento de provação", afirmou Vasco Cordeiro, citado no comunicado, no qual elogiou a dedicação e o profissionalismo de todos os profissionais que estiveram envolvidos na operação que foi montada devido à passagem do furacão Lorenzo pelo arquipélago.

O presidente do executivo regional, que acompanhou a passagem do furacão na ilha das Flores, ressalvou, contudo, que "há muito trabalho" e que "há danos que se afiguram elevadíssimos", além de situações de desalojados, nomeadamente nas Flores e no Faial.

"No Faial, há situações com desalojados, que nos merecem preocupação. Assim que for possível, em termos de condições de segurança, avançaremos de imediato para a avaliação das condições destas habitações", referiu, acrescentando que, no Pico, também foi necessário proceder a evacuações por precaução.

Quando o tempo melhorar, acrescentou Vasco Cordeiro, um conjunto de áreas será avaliado com "maior exatidão para apurar a extensão dos danos".

"Vamos começar já a trabalhar para repor a normalidade das pessoas que viram as suas habitações afetadas por este mau tempo, assim como nas infraestruturas", salientou.

O grupo ocidental do arquipélago (Flores e Corvo), devido à sua localização geográfica, tradicionalmente é o mais afetado dos Açores por fenómenos naturais como tempestades tropicais ou furacões. O furacão Lorenzo passou esta madrugada, entre as 4:00 e as 4:30, a cerca de 70 quilómetros a oeste das Flores ainda com categoria 2 na escala de Saffir-Simpson, mas no limite inferior, segundo uma nota enviada esta manhã pelo IPMA.

As rajadas máximas registadas pelo IPMA ocorreram às 8:25 locais no Corvo (aeroporto), com 163 km/h, às 5:00 nas Flores (aeroporto), com 142 km/hora, e às 4:00 no Faial (Horta), com 145 km/h.

O furacão Lorenzo perdeu entretanto força e está a deslocar-se rumo à Irlanda.

Flores com "estragos materiais avultados"

O presidente da Câmara de Santa Cruz das Flores, nos Açores, afirmou ao início da tarde que a passagem do furacão Lorenzo provocou "danos avultados" em vias, habitações, no património municipal e no porto, tendo sido necessário proceder a três realojamentos. "A sinalização rodoviária está praticamente danificada, árvores caídas, estradas interrompidas e edifícios públicos, como escolas, o ginásio, o museu e o auditório também estão bastante danificados", disse à agência Lusa José Carlos Mendes, salientando que o concelho foi "atingido severamente".

De acordo com o autarca, estão já "a decorrer trabalhos de limpeza", com o objetivo de tornar "as vias circuláveis, mas sempre com algumas precauções". "Felizmente não tivemos vítimas, mas os estragos materiais são bastante avultados", referiu o presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores, acrescentando que os estragos ainda não estão totalmente contabilizados.

Devido à passagem do furacão, foi ainda necessário proceder "a três realojamentos de três famílias, duas das quais porque moravam junto à costa e um outro agregado familiar cuja casa ficou descoberta", segundo indicou.

O autarca adiantou também que foram registados "estragos no porto" local, que "estava a ser reabilitado", a par do que sucedeu na infraestrutura das Lajes das Flores, "onde ocorreram sérios prejuízos ao nível do molhe". José Carlos Mendes referiu que a situação "já está a ficar calma", sublinhando, no entanto, que "o vento ainda sopra com alguma intensidade" e que "a agitação marítima ainda está alta".

No Corvo as pessoas "levaram os avisos à risca"

A população da ilha mais pequena dos Açores (Corvo) apercebeu-se que a passagem do furacão Lorenzo não seria apenas "mais uma tempestadezinha" e levou "à risca" os avisos das autoridades, disse o autarca corvino, José Manuel Silva. "As pessoas, em função da informação que foi sendo veiculada, perceberam que efetivamente não se tratava de mais uma tempestadezinha ou um dia de mau tempo como muitas vezes se tem (na ilha) durante o inverno", declarou à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal do Corvo.

O presidente da Câmara Municipal do Corvo referiu que, neste momento (11:30 dos Açores, menos uma do que em Lisboa) o vento "ainda soprava com bastante intensidade" e a ondulação fazia-se sentir com "grande vigor", tendo a situação mais intensa tido lugar entre as 03:30 e as 04:30 de quarta-feira.

O autarca aponta que se registaram várias ocorrências em termos materiais, mas há nada a apontar em relação pessoas em risco, tendo nas últimas horas registando-se danos, por exemplo, nas coberturas de alguns edifícios, a par da vedação do aeroporto, entre outros eventos cujos prejuízos vão agora ser contabilizados.

Mais de 50 pessoas realojadas

A secretária regional da Saúde dos Açores, que tutela a Proteção Civil, Teresa Machado Luciano, disse ao início desta tarde aos jornalistas que o furacão Lorenzo provocou mais de 170 ocorrências e obrigou ao realojamento de mais de 50 pessoas.

"Em termos de ocorrências, 171, sendo que temos 66 no Faial, 23 nas Flores, 28 no Pico, 21 em São Jorge, oito na Graciosa, 20 na Terceira, duas em São Miguel e três no Corvo", referiu Teresa Machado Luciano.

Segundo a governante, foi necessário realojar 53 pessoas em três ilhas: "quatro em São Jorge, 42 no Faial e sete nas Flores".

Esta manhã foi ainda equacionada a possibilidade de se retirar uma centena de pessoas nas Lajes do Pico, por precaução, mas afinal foram apenas 50.

Todas as pessoas foram realojadas em casas de familiares ou em soluções encontradas pela Direção Regional da Habitação e pela Secretaria Regional da Solidariedade Social.

Entre as ocorrências, as mais comuns foram "quedas de árvores, inundações, vias destruídas e galgamentos costeiros", mas são os prejuízos no Porto das Lajes das Flores, o único porto comercial da ilha, que merecem maior preocupação do executivo açoriano. "A ocorrência mais grave, muito complicada, é a questão do molhe de proteção do Porto das Lajes das Flores, que ficou totalmente destruído", frisou Teresa Machado Luciano.

O presidente do serviço Regional de Proteção Civil dos Açores, Carlos Neves, confirma que até ao momento só foram registados "danos materiais". "Há que frisar no meio deste número considerável de ocorrências que não se registou nenhum ferido, nenhuma vítima e isso é o que nos deixa mais descansados", apontou o presidente da Proteção Civil.

O furacão Lorenzo provocou ainda "alguns cortes de energia na zona de Santa Cruz das Flores", bem como problemas "nas redes de telemóvel e de comunicações", que deverão ser corrigidas "ao longo dos dias".

Entretanto, a energia elétrica já foi reposta na ilha Graciosa, nos Açores, indicou a empresa de Eletricidade dos Açores (EDA), que espera resolver ainda esta quarta-feira os danos causados pelo furacão Lorenzo em outras ilhas, que continuam sem eletricidade.

Num ponto de situação feito às 12:30 aos danos causados pela passagem do furacão, a elétrica regional disse que, "nas ilhas de Santa Maria, São Miguel, Terceira, Corvo e Graciosa, o fornecimento de energia elétrica já está normalizado".

Dessas cinco ilhas, a Graciosa era a única que estava esta quarta-feira de manhã com falta de energia em algumas zonas.

Àquela hora continuavam por resolver danos causados pelo furacão nas ilhas das Flores, São Jorge, Pico e Faial.

"Na ilha das Flores, a linha de Média Tensão que abastece a Fajã Grande está a ser reparada. Contamos ter a situação normalizada até ao final da tarde de hoje", indicou a EDA num comunicado.

A Ilha do Pico tem "dois postos de média tensão danificados" na linha São Roque -- Madalena, que já "estão a ser reparados", enquanto na ilha de São Jorge "a linha de média tensão que abastece o Topo" já está reparada e estão a tratar de algumas avarias "de baixa tensão" por causa da queda de árvores.

Na ilha do Faial só existem "algumas avarias na baixa tensão" que estão a ser resolvidas.

8% da rede móvel da Altice afetada

Menos de 10% da rede de móvel da Altice Portugal nos Açores tinha sido afetada pela passagem do furacão Lorenzo pelo arquipélago, segundo o balanço das 14h30 feito pela operadora, como noticia o Dinheiro Vivo.

Mas até às 10h desta quarta-feira perto de três dezenas de sites móveis estavam inativos. A NOS diz que os serviços estão "repostos praticamente na totalidade". E o mesmo diz a Vodafone.

Falha no fornecimento de energia e, nalguns casos, corte de transmissão por queda de árvores ou estruturas foram as principais causas dos problemas verificados com a rede da dona do Meo.

"A Altice Portugal regista essencialmente afetação na rede fixa e móvel nas ilhas das Flores e Pico, resultado do impacto em apenas 8% dos sites móveis que tem no Arquipélago dos Açores, ou seja, de 159 sites apenas 13 estão afetados. De notar que pelas 10h00 de hoje, perto de três dezenas de sites estavam inativos", refere a operadora em comunicado.

A operadora tem no terreno mais de 150 técnicos e operacionais especializados, tendo, de acordo com a informação prestada pela companhia, sido já reposta a rede fixa e móvel em Santa Cruz das Flores, todos os sites TDT, "cuja afetação se deveu a falhas na energia".

Foi ainda feita a "reposição imediata dos serviços do cabo submarino entre o Pico e a ilha de Santa Maria, através da redundância existente via cabo submarino do Faial, nunca tendo sido sentido qualquer impacto de serviço ou nos clientes", garante a empresa.

Fonte oficial da NOS ao Dinheiro Vivo referiu que "os serviços estão repostos praticamente na totalidade, desde o final da manhã de hoje".

Na rede Vodafone o furacão fez estragos no serviço móvel das ilhas das Flores, Corvo, Faial e Pico. "Desde as 15h45 praticamente tudo recuperado no Faial, Pico e São Jorge, onde chegaram a estar totalmente afetadas. O que está em baixo é acima de tudo devido a falhas de energia", refere fonte oficial da Vodafone

Agricultores dizem que passagem do furacão não foi "devastadora como era expectável"

"A expectativa era que fosse muito mais negativa a passagem deste furacão. Obviamente há ilhas que tiveram graves prejuízos: as Flores, o Pico, o Faial e o Corvo tiveram mais prejuízos e de forma mais acentuada", reconheceu Jorge Rita, presidente da Federação agrícola dos Açores, em declarações à Lusa.

Jorge Rita lembrou que noutros setores de atividade, nomeadamente a nível portuário e habitacional, com casas mais próximas do mar e da costa, houve "prejuízos mais avultados".

"Ainda é cedo para nós aqui na região fazermos uma análise mais aprofundada. Há muita gente em campo a monitorizar o que se está a passar no sentido de averiguar os reais prejuízos que o furacão deixou", avançou.

"Os prejuízos são abaixo da expectativa atendendo à capacidade avassaladora que este furacão podia ter", acrescentou.

Jorge Rita lembrou também que atualmente grande parte das construções, nomeadamente estufas, já são feitas "no sentido de se precaverem para aquilo que são os vendavais normais".

"Claro que um furacão é sempre de grande imprevisibilidade. Ventos para cima de 200 quilómetros não são muitas as construções na área das estufas que podem resistir a eles, mas felizmente que não temos tido contacto com tempestades dessas dimensões", disse.

Prejuízos no setor das pescas registados sobretudo nas Lages, na ilha das Flores

O presidente da Federação de Pescas dos Açores, Gualberto Rita, afirmou que as Lajes, na ilha das Flores, foi onde se registaram mais prejuízos para o setor, ainda não estão quantificados, devido à passagem do furacão Lorenzo.

"Em termos de prejuízos, neste momento [15:30 em Lisboa], no que diz respeito ao setor das pescas, o que há a registar é mais precisamente nas Lajes na ilha das Flores, mas como disse, ainda não conseguimos ter o valor destes prejuízos no setor", disse à Lusa Gualberto Rita.

Segundo o responsável, a ondulação na ilha de São Miguel ainda está bastante alta e é esperado que acalme apenas a partir das 18:00 locais (19:00 em Lisboa).

"Estamos aqui com ondulação bastante alta na ilha de São Miguel. Em Ponta Delgada, a maré está um bocado alta, aqui, no Porto da Ribeira Quente, também. Tivemos que reforçar ainda mais as embarcações (...) em termos de amarrações e de segurança, porque a agitação marítima é bastante grande aqui", disse.

De acordo com Gualberto Rita, as previsões apontam para que a situação melhore, a partir das 18:00.

"Isto porque o problema maior está com a preia-mar. A preia-mar é as 14:50, horas dos Açores, que é quando se regista aqui. Como disse, as marés são muito altas e, com a ondulação, está aqui a perturbar bastante toda a atividade dentro dos portos e estes portos mais virados a sul têm que ter aqui uma segurança redobrada para salvaguardar estas embarcações", sublinhou.

O aviso relativo às rajadas de vento nas ilhas dos grupos ocidental e central já baixou para amarelo (o terceiro mais grave), mas a agitação marítima mantém-se sob aviso laranja (o segundo mais grave da escala), até às 15:00 locais (16:00 em Lisboa).

Nesse sentido, o Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores vai continuar "em alerta" até ser feita uma nova avaliação com o IPMA.

A rajada de vento máxima registada pelo IPMA foi de 163 km/h, às 08:25, no Corvo.

O pior já passou

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) dos Açores declarou que o período crítico do furacão Lorenzo decorria até às 9:00 da região (10:00 em Lisboa), afetando maioritariamente as ilhas das Flores e do Corvo. "O centro do furacão já passou" a oeste da ilha das Flores, e encontra-se a caminho de norte/noroeste, "com tendência a afastar-se" progressivamente da ilha do grupo ocidental, declarou a meteorologista Vanda Costa à agência Lusa, falando pouco depois das 5:30.

(notícia atualizada às 17:16)

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