País
17 setembro 2020 às 18h06

Escola Secundária de Campo Maior. "O que fizemos foi quase uma mudança de casa"

Ainda se ultimavam os preparativos para receber as 32 turmas da Secundária de Campo Maior, esta quinta-feira, mas direção e docentes do estabelecimento de ensino estavam otimistas.

Roberto Dores

A mesa de ping pong já está na arrecadação e os "matrecos" para lá caminham. Pode parecer que são dois detalhes sem expressão no espaço de recreio da Escola Secundária de Campo Maior, mas não. Ilustram a intenção de manter os alunos no estabelecimento apenas o estritamente necessário. "O essencial são as aulas. Depois alguém acredita que os miúdos desinfetam as mãos enquanto jogam matraquilhos?", questiona o subdiretor do agrupamento Luís Santa, que conduz a visita ao edifício preparado para responder à letra em tempos de pandemia.

Pelas escadas de acesso ao primeiro andar ainda se ultima a colagem de fitas. As mesmas que se espalham pelo generoso parque escolar. Umas proíbem a passagem, outras indicam os trajetos, havendo ainda separadores centrais. "É como os carros, a ideia é que caminhem sempre pela direita", justifica o professor, após receber o DN na porta de entrada.

É aqui que o tapete desinfetante comprado pela autarquia vai traduzir a primeira linha de defesa, seguindo-se dois termómetros que permitem medir a temperatura. Uma luz verde atesta os valores normais.

No meio do átrio um conjunto de compridos bancos é estrategicamente colocado para definir os percursos a quem entra e sai da escola. Perde-se a conta aos boiões de gel desinfetante à medida que avançamos pelos corredores. Parece que estão por toda a parte e ao virar da esquina lá estão mais dois.

Além das sucessivas sinaléticas avista-se um cartaz que indica os caminhos das turmas. Quem sobe as escadas interiores e quem deverá chegar às salas do primeiro andar percorrendo os degraus que estão a céu aberto.

"São 32 turmas. Tivemos que arranjar uma sala para cada uma e foi preciso pensar tudo isto muito bem para que os alunos se cruzassem o menos possível", explica o subdiretor, justificando, assim, a intenção de manter - ao contrário do habitual - a porta do átrio aberta para o exterior.

O professor abre agora portas de gabinetes que vão estar inoperacionais para mostrar um sem fim de peças de mobiliário que foram retiradas das salas de aula. Ficaram apenas os materiais necessários para o número de alunos de cada turma. São mesas, são cadeiras, são bancos e até cavaletes. Tudo empilhado até que a pandemia passe.

"O que fizemos foi quase uma mudança de casa, em que tivemos a ajuda preciosa dos assistentes operacionais ", congratula-se o docente, destacando como nesta escola a aposta passou por colocar alternadamente salas a receber turmas do básico e do secundário com horários desfasados. "Se a sala 10 é do básico, a 11 é do secundário. O secundário entra e sai um quarto de hora antes", diz.

Abre agora a porta da "sala estrela" deste singular ano letivo. O auditório, com bem mais de cem metros quadrados e capacidade para cem pessoas, foi transformado na maior sala de aulas da escola, estando preparado para receber uma turma de 31 alunos do 10.º ano. A maioria das turmas anda um pouco acima dos 20 estudantes, mas esta turma junta as disciplinas de línguas estrangeiras.

"Cada aluno tem uma carteira na sua sala. Temos uma planta para que todos saibam e mesmo as carteiras de dois lugares só têm um aluno. Até parece que a sala fica mais apertada, mas é ilusão de ótica, porque até se garante mais distanciamento entre os alunos", diz Luís Santa.

A direção da escola assume que estes dias de planeamento foram menos complexos, porque o sistema tinha sido testado no final do último ano letivo, aquando da retoma da atividade presencial para os alunos com exame."Foi um teste só com oito turmas em simultâneo e agora será mais complicado, mas tirámos dividendos dessa experiência piloto", assume, sem perder de vista que "haverá sempre afinações de última hora".

Estamos agora no imenso pátio circundado por uma desalinhada área verde, onde o recreio se faz em anos ditos normais. Por aqui desponta uma pala a fazer lembrar - em ponto pequeno, entenda-se - o pavilhão de Portugal na Expo.

Terá uma utilidade sublime por estes tempos conturbados, recebendo algumas cadeiras onde em dias de chuva os alunos poderão permanecer no exterior, ficando abrigados. "Às vezes podem não ter aulas e preferirem estar ao ar livre. Os miúdos vão ter que estar em algum lado", diz o mesmo responsável.

É no acesso à papelaria e reprografia que reside a maior preocupação neste arranque. O interior está reservado apenas a duas pessoas, mas perspetivam-se filas de alunos no corredor para tirarem fotocópias ou fazerem carregamentos de cartões de refeição. Serão cerca de 600.

A distância de segurança entre os estudantes volta a estar marcada pelo chão com mais fitas, mas a direção da escola está a tentar sensibilizar os pais dos alunos para que recorram a transferências bancárias à hora de recarregar os cartões.

Enquanto no bar são garantidos três canais de atendimento, o refeitório confunde-se com uma sala de aulas com 24 lugares. Um por mesa. A escola serve, no máximo, 50 refeições diárias, a maioria a alunos que residem fora da sede de concelho, e vai dedicar duas horas ao almoço. Não se perspetivam dificuldades para esta ala.
E sobre a necessidade de credibilizar todo este processo junto da comunidade? O diretor do agrupamento, Jaime Carmona, alerta para a importância de envolver os pais neste novo desafio. "Já procurei passar informações e pedir a ajuda deles, que hoje é mais necessária do que nunca", atesta, falando mesmo em "responsabilização", justificando que "é preciso que percebam que isto é sério."

O dirigente coloca ainda os diretores de turma como elementos chave na relação entre a escola e as famílias. "São eles que melhor conhecem os alunos, sabendo os que levam isto menos a sério. É a esses que é preciso chamar mais a atenção", advoga.

Até aqui a direção do agrupamento, que junta mais de 1200 alunos, privilegiou o contacto com os encarregados de educação à "boleia" das vias digitais, em face da ausência de aulas, concentrando ainda informação relevante na página da escola. "Mas o trabalho fundamental será feito agora", insiste, assumindo a relevância de impedir qualquer comportamento "desviante" que possa desencadear uma espécie de bola de neve. "Se no pátio há dois alunos que tiram as máscaras e depois há mais três ou quatro que também tiram, isso pode ser problemático. Embora nos meios mais pequenos como o nosso seja mais fácil sensibilizar alunos e pais", resume.

O concelho de Campo Maior tem logrado seguir a tendência da maioria dos municípios alentejanos, exibindo um reduzido número de infetados com covid-19. Os dados oficiais dão esta quinta-feira conta de 11 casos confirmados, existindo oito ativos, enquanto três pessoas já recuperaram.