Coronavírus virou a vida do avesso a quem é de Felgueiras e Lousada

Além das medidas em vigor em Lousada e Felgueiras, estudantes dos concelhos são afastados das universidades, os tribunais estão a adiar diligências com advogados lousadenses e felgueirenses e hospitais suspendem consultas.
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Ser residente em Felgueiras ou Lousada é atualmente significado de ter toda a vida condicionada. Há 100 mil pessoas a quem é recomendado o isolamento social mas o âmbito desta medida tem um alcance fora dos limites dos concelhos. Não só os que trabalham e estudam no concelho - sujeitos às medidas definidas pela Direção-Geral de Saúde - mas igualmente os que trabalham noutras localidades e, sobretudo, os que estudam em estabelecimentos de ensino superior. Os doentes foram informados do cancelamento de consultas médicas pelo hospital de Penafiel. Ou ainda, por exemplo, os advogados locais cujos julgamentos em que participam estão a ser adiados em diversos tribunais.

Nos dois concelhos, onde se iniciaram cadeias de transmissão do coronavírus, as escolas e outros organismos públicos estão fechados, ou muito condicionados, e os eventos públicos, foram cancelados. As empresas ainda laboram na sua maioria. Mas fora dos municípios há também restrições às pessoas oriundas destes dois concelhos do Vale do Sousa.

Esta segunda-feira, o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa anunciou o cancelamento das consultas e exames dos utentes dos concelhos de Lousada e Felgueiras.

Esta medida de prevenção, diz o CHTS, "visa garantir a segurança de utentes e profissionais", garantindo estar "cientes do transtorno que esta medida possa causar" e apelando "à compreensão e colaboração de todos na divulgação positiva e construtiva desta medida, a bem de todos". Oportunamente serão agendadas as consultas.

Estudantes retirados das aulas

As universidades e os institutos politécnicos estão a recomendar a todos os estudantes que sejam dos concelhos de Felgueiras e Lousada que não se desloquem para os estabelecimentos de ensino. Foi o caso da Universidade do Porto, por exemplo, numa diretiva que foi seguida pela maioria das instituições no norte, desde a UTAD em Vila Real à Universidade de Aveiro.

Nas redes sociais, há relatos de estudantes a queixarem-se de terem sido colocados numa espécie de isolamento só por serem de Felgueiras (ou Lousada). Fala-se em discriminação, por um lado; responde-se com prevenção, por outro. Mas muitos estudantes denunciam a forma como foram colocados de parte já durante esta segunda-feira.

A Câmara de Lousada tem - através dos seus serviços municipais, do presidente e do vereador - informado os munícipes do que fazer perante as diversas situações como pessoas que ficam em quarentena, que tenham ficar com os filhos ou fiquem limitadas na atividade laboral. Nelson Oliveira, vereador da Câmara de Lousada, tem usado o Facebook para informar as pessoas.

Da mesma forma, a Câmara de Felgueiras usa as redes sociais para passar a mensagem, com recomendações e informações importantes sobre a situação.

Tribunais adiam julgamentos

Com os tribunais de Felgueiras e Lousada - exceto para casos urgentes como determinou o Conselho Superior de Magistratura, a Ordem dos Advogados pediu aos tribunais que adiem as diligências em que sejam intervenientes advogados destes concelhos. "Após consulta aos senhores presidentes das Delegações de Felgueiras e Lousada, entende a Ordem dos Advogados que os Tribunais deverão decretar imediatamente o adiamento de todas as diligências judiciais em que intervenham advogados dessas localidades, apelando ao Conselho Superior de Magistratura e aos Presidentes dos Tribunais para que sejam emitidas diretivas nesse sentido".

Esta medida tem obviamente impactos na justiça e nos prazos fixados. Por isso, a "Ordem dos Advogados apela igualmente ao Governo para que seja rapidamente aprovado o diploma relativo à consideração como justo impedimento para efeitos de suspensão de prazos e adiamento das diligências o isolamento ou restrições de mobilidade resultantes do Coronavírus, cuja proposta já foi enviada pela Ordem dos Advogados à senhora Ministra da Justiça".

Os próprios escritórios de advogados têm optado por fechar, como medida preventiva. É o caso de Paulo Gomes, advogado em Felgueiras. "No âmbito das orientações publicadas pela Direção-Geral de Saúde, o meu escritório optou por encerrar. Estamos a trabalhar à porta fechada", disse ao DN, adiantando que já recebeu duas informações de tribunais - Felgueiras e Braga - a indicar que julgamentos em que participa seriam adiados esta semana.

"Sinceramente, é prudente. É um sacrifício, causa transtornos, mas veja-se o que se passa em Itália. É melhor prevenir", disse o advogado, revelando que esta segunda-feira de manhã teve um julgamento no tribunal de Felgueiras. "Era um caso urgente, com crimes de violência doméstica. O tribunal está de porta fechada mas abre para casos urgentes. O juiz esteve bem ao não ouvir as testemunhas, Seis delas eram de fora do concelho e outras cinco residentes no concelho. Para não haver contactos, foi ouvido o arguido e o julgamento prosseguirá em abril."

Quando saiu do tribunal, Paulo Gomes notou de imediato uma diferença nas ruas. "Há menos movimento, claramente, nota-se que as pessoas não andam tanto na rua e estão a seguir as indicações", disse o advogado, para quem há muitas questões que se irão levantar, relativas a dispensas laborais e outras. Para já o governo já apresentou 14 medidas para apoio a empresas e cidadãos afetados.

Bispo suspende missas

O bispo do Porto, D. Manuel Linda, reforçou as medidas nas vigararias de Lousada e Felgueiras. Depois de uma série de medidas para toda a diocese, seguindo as instruções da DGS, o bispo decidiu suspender as missas em Lousada e Felgueiras, após ter sido contactado pelo presidente da Administração Regional de Saúde do Norte, que pediu "colaboração para ajudar a circunscrever o coronavírus".

Neste contexto, e para as paróquias, reitorias e capelanias das vigararias de Lousada e Felgueiras, D. Manuel Linda determinou "suspender todas as missas e devoções populares até ao meio dia do próximo sábado", bem como que "a administração dos outros sacramentos será feita apenas em caso de urgência e para o menor número possível de pessoas".

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