Bebé sem rosto. Ministério pede esclarecimentos e hospital de Setúbal abre inquérito

O médico obstetra que acompanhou a gravidez já tem pelo menos oito queixas na Ordem dos Médicos. Na sequência de uma queixa apresentada pela família da criança que nasceu com malformações graves, o Centro Hospitalar de Setúbal, onde ocorreu o parto, decidiu investigar o caso.
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O Centro Hospitalar de Setúbal já abriu um inquérito sobre o parto da criança que nasceu este mês, neste mesmo estabelecimento de saúde, sem rosto. Já o Ministério da Saúde anuncia que irá pedir à Ordem dos Médicos esclarecimentos sobre os processos que envolvem o médico obstetra que não detetou malformações graves neste bebé.

"Atendendo à reclamação apresentada por parte da família, o Centro Hospitalar de Setúbal deliberou proceder à abertura de um processo de inquérito, para apurar se tudo foi feito de acordo com a legis artis desde que a parturiente deu entrada no bloco de partos", refere um comunicado o Centro Hospitalar de Setúbal, que integra o Hospital São Bernardo. "Mais se informa que o clínico em questão, nas tarefas que lhe estão atribuídas no Centro Hospitalar de Setúbal, não estão incluídas a realização de ecografias obstétricas, nem desempenha qualquer cargo ou função de chefia no Hospital de São Bernardo", acrescenta o comunicado.

Na quinta-feira, o Centro Hospitalar de Setúbal já tinha esclarecido que o acompanhamento da gravidez da mulher que deu à luz um menino com várias malformações, sem olhos, nariz e parte do crânio, no Hospital São Bernardo, em Setúbal, não tinha sido feito naquela unidade hospitalar, onde se realizou apenas o parto.

De acordo com o CHS, "a criança e a família têm sido acompanhados no Serviço de Pediatria com o apoio da Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos Pediátricos do Centro Hospitalar de Setúbal".

Outras fontes hospitalares disseram à agência Lusa que o obstetra Artur Carvalho, médico assistente graduado sénior, que, alegadamente, não detetou malformações graves no bebé, terá acompanhado a gravidez da mãe da criança a título particular, numa clínica privada muito próxima do hospital, e que não terás detetado as referidas malformações nas ecografias realizadas.

A madrinha do bebé confirmou à agência Lusa que os pais apresentaram queixa contra o médico que acompanhou a gravidez, no Ministério Publico de Setúbal, na sexta-feira da semana passada, e já está a ser investigado.

O bebé em causa nasceu dia 7 de outubro no Hospital de São Bernardo sem olhos, nariz e parte do crânio, depois de a mãe ter realizado ecografias com um obstetra numa clínica privada em Setúbal com o médico Artur Carvalho. Os pais do bebé terão feito três ecografias com o médico em causa, sem que lhes tivesse sido reportada qualquer malformação.

Só num exame feito noutra clínica, uma ecografia 5D, os pais foram avisados para a possibilidade de haver malformações. Questionaram o médico que os seguia, que lhes garantiu que estava tudo bem, conta o jornal, citando a madrinha do bebé.

As complicações só foram detetadas depois do parto e os pais apresentaram queixa ao Ministério Publico contra o médico. Entretanto, o Correio da Manhã relata que o Hospital de São Bernardo abriu um inquérito para averiguar este caso.

Governo pede esclarecimento

Em resposta a questões da agência Lusa, fonte oficial do gabinete da ministra Marta Temido indicou que o Ministério "tem estado a acompanhar o caso junto do conselho de Administração do Hospital de Setúbal, aguardando resultado das diligências em curso, nomeadamente do processo de averiguações instaurado pelo hospital relativamente às circunstâncias do parto".

O Ministério adianta também que "vai ainda solicitar à Ordem dos Médicos esclarecimentos sobre os processos que envolvem este médico".

O bastonário dos Médicos disse na quinta-feira que pediu esclarecimentos e uma ação rápida ao Conselho Disciplinar do Sul da Ordem sobre o clínico envolvido no caso do bebé que nasceu com malformações graves, sem nariz, olhos e sem parte do crânio.

Numa nota enviada à comunicação social, o bastonário Miguel Guimarães recordou que não pode interferir na atividade do Conselho Disciplinar, que tem autonomia estatutária, mas ainda assim pediu "um esclarecimento cabal" ao presidente daquele organismo "dada a gravidade dos factos relatados".

Miguel Guimarães apelou também ao Conselho Disciplinar do Sul para uma "ação rápida, eficaz e justa nos casos analisados (...) que dignifique a profissão médica e proteja os doentes".

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