A maioria das pessoas tem medo de perder os rendimentos
Na primeira semana da aplicação do questionário online pela Escola Nacional de Saúde Pública sobre o que "Pensam os portugueses em tempos da covid-19", os resultados mostram que a principal preocupação da população portuguesa passa por perder os rendimentos. Segue-se o medo de deixar de haver bens de primeira necessidade.
"No que se refere ao receio de perder o seu rendimento devido à situação atual relacionada com a covid-19, 60% dos inquiridos homens e mulheres afirma estar receoso", escreve a equipa que está a realizar o estudo, sob a coordenação de Sónia Dias. Apenas o grupo etário acima dos 65 anos assume estar menos preocupado, o que se explica pela sua situação laboral, já que a maioria está reformado.
"A questão dos rendimentos está muito relacionada com a que refere que as pessoas sentem frequentemente angústia, ansiedade. As pessoas que mais têm esses sentimentos temem perder os recursos", explica Sónia Dias, professora de Saúde Pública.
Apenas 17 % dos inquiridos não está "em baixo, agitado, ansioso ou triste devido às medidas de distanciamento físico". E os que estão mais tranquilos, que nunca têm este tipo de sentimentos, são os idosos. Já os mais novos, entre os 16 e os 25 anos, afirmam ter estes sentimentos todos os dias
Entre os 83 % que dizem estar tristes, 26% garante sentir-se assim diariamente ou quase todos os dias, com destaque para as mulheres (67.5%).
Um outro fator de angústia é a possibilidade de existir uma interrupção do fornecimento de bens de primeira necessidade. Duas em cada cinco pessoas tem esta preocupação, numa proporção semelhante entre homens e mulheres, equilíbrio que se mantém a nível dos grupos etários.
Sónia Dias chama a atenção para "o impacto que o isolamento social poderá ter na saúde mental da população", sublinhando que se deve dar especial atenção a esta área.
A boa notícia é a adesão da população portuguesa às medidas para combater a doença. "As pessoas estão a ficar em casa, o que não quer dizer quer não haja grupos que não entendam a necessidade de as cumprir, mas a grande maioria dos nossos respondentes refere que só sai de casa por absoluta necessidade", destaca a investigadora.
A população diz estar a cumprir, mas com ligeiras diferenças no que diz respeito ao sexo e à idade."Na primeira semana do inquérito, cerca de 92% das pessoas afirma estar em casa e só sai em caso de absoluta necessidade. Quando questionados se estão em casa, saindo apenas em situação de absoluta necessidade, as mulheres (65%) e os participantes acima dos 65 anos de idade (97.7%) apresentam valores ligeiramente superiores".
As pessoas entendem que as medidas, tantas as da Direção-Geral de Saúde como as do Governo, são adequadas ao momento que se está a viver, segundo revela o inquérito.
Ainda assim, Sónia Dias, chama a atenção que o inquérito é realizado online e que tem uma maior representatividade de pessoas com um curso superior, incluindo o grupo etário dos 65 ou mais anos, sendo o nível de formação importante para a compreensão das medidas.
Em relação ao que está a ser feito a nível da saúde, 51.7% dos respondentes afirma estar "confiante" ou "muito confiante" na capacidade de resposta dos serviços, mais uma vez com a faixa das pessoas acima dos 65 anos a liderar este resultado (73.5%)
Outra conclusão é que, nesta pandemia, as principais fontes de informação são as oficiais e os media dito tradicionais. "Este é outro fator positivo", salienta Sónia Dias, argumentando: "As principais fontes de informação têm sido as fontes credíveis: as entidades governamentais e os meios de comunicação social, o que realça o papel da comunicação social para esclarecer a população do porquê destas medidas, o esforço que têm feito para explicar numa linguagem compreensível as características da doença, o que também influencia a adesão das pessoas às medidas".
O inquérito demonstra, ainda, a solidariedade e entreajuda dos residentes em Portugal. Mais de 80% das pessoas responderam ter esse apoio caso o necessitem, para a compra de bens, alimentos e produtos de farmácia. Muitas vezes são familiares, mas também pode ser um amigo, um vizinho ou outro tipo de ajuda.
O objetivo do questionário "é seguir a opinião destas pessoas semanalmente, para perceber a evolução à medida que a epidemia decorre, para perceber o seu impacto nas perceções das pessoas", refere a equipa que está a realizar o estudo. Os investigadores chamam a atenção para o facto de o inquérito estar a ser aplicado online, "pelo que existe a possibilidade de não alcançar todas as frações da população".
Os dados, divulgados esta sexta-feira (27 de março), dizem respeito às primeiras cem mil respostas ao questionário, recolhidas entre os dias 21 e 25 de março de 2020, online, de preenchimento individual, partilhado nas redes sociais e através de endereço eletrónico. A equipa destaca a adesão ao preenchimento do questionário.