159 personalidades pedem novas medidas para reabertura controlada da economia
Numa carta enviada ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República e ao primeiro-ministro, um conjunto 59 personalidades, incluindo profissionais de saúde, gestores e empresários, entre eles os presidentes da Altice, da Vodafone e da Nós, assim como gestores ligados à indústria, à cultura e ao turismo, recordam que é fundamental criar uma alternativa "a novos períodos de lockdown - que se apresentam como um modelo cego e com impacto na economia de um país".
Na carta, a que a agência Lusa teve acesso, dão como exemplo o Japão, Singapura e a Coreia do Sul para afirmar que é possível, "com medidas de contenção muito rigorosas, manter a economia e funcionamento sem lockdown e, ao mesmo tempo, conter a propagação do vírus".
"Acreditamos que não é possível suspender a atividade económica até que não exista qualquer risco de contágio. O nosso modelo de sociedade não suportaria uma espera tão prolongada. Mas também consideramos que seria uma atrevida inconsciência retomar a atividade sem adotar cuidados adicionais que garantam que não teremos um ressurgimento a curto e médio prazo", escrevem, apelando a que, "em consonância com o parecer dos técnicos especialistas, o estado de emergência venha a ser levantado gradualmente com a mitigação da epidemia".
Como medidas adicionais sugerem o uso obrigatório de máscaras por parte de toda a população para reduzir a transmissão do vírus e que, em caso de escassez de material, estas sejam confecionadas em casa seguindo as instruções do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas e de entidades internacionais como o Centro de Controlo de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
O diagnóstico precoce de covid-19, testando todos os suspeitos num prazo de 24 horas desde a manifestação de sintomas, a massificação da utilização dos testes serológicos na população portuguesa, e a utilização, com supervisão da comissão de proteção de dados, de informação cedida pelos operadores de redes móveis para identificar cidadãos eventualmente expostos a risco de contágio par serem informados via sms ou contacto telefónico são outras das medidas defendidas.
Este grupo de personalidades defende o uso de equipamento de proteção individual em todos os profissionais de saúde, tanto em áreas covid-19 como não covid-19 para evitar contágio por doentes que não se enquadrem inicialmente na definição de caso suspeito e a capacitação de grupos específicos em empresas, escolas e comunidades para identificação de casos suspeitos na comunicado.
Defendem que sejam mantidas todas as medidas de distanciamento "que não tenham impacto económico, como o regime de teletrabalho sempre que possível", assim como a ponderação individual do aliviar de cada medida de contenção.
Criar estrutura de Laboratórios e Médicos sentinela para identificação de transmissão do vírus SARS-CoV-2, responsável pela pandemia de covid-19, assim como a definição dos necessários investimentos adicionais a efetuar no Serviço Nacional de Saúde, "de forma a estar preparado para todos os cenários", são outras das propostas.
"Conforme o alerta da Ordem dos Médicos, temos hoje a consciência clara de que milhares de utentes evitam o SNS, por receio de potencial contágio. Este facto leva a que patologias mais frequentes e igualmente fatais estejam a ser diagnosticadas tardiamente, com consequente aumento da morbilidade e mortalidade", recordam.
Defendem ainda que "Portugal precisa de, tão rápido quanto possível, reinventar e ajustar rotinas tendentes ao regresso a uma certa normalidade reinventada" para que a economia possa "iniciar uma recuperação acelerada".
De acordo com o Observador, entre os subscritores estão nomes como Miguel Pinto Luz (autarca e ex-secretário de Estado do PSD); Pedro Santa Clara (economista e professor catedrático na Nova SBE); Jaime C. Branco (médico e diretor da Nova Medical School); António Saraiva (presidente da CIP); Carlos Silva (secretário geral da UGT); Luis Palha (presidente da Pharol); Manuel Rodrigues (docente em Finanças na King"s College London); Álvaro Covões (produtor de espetáculos); Ana Paula Martins (bastonária da Ordem dos Farmacêuticos); Mário Vaz (presidente da Vodafone Portugal); Miguel Almeida (presidente da NOS); Miguel Gameiro (músico); Pedro Proença (presidente da Liga Portuguesa de Futebol); Vítor Sobral (chef); Ricardo Mexia (Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública); Martins da Cruz (embaixador e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros), entre outros empresários, médicos, enfermeiros, advogados, políticos ou professores.
Estas 150 personalidades propõem dez medidas: uso obrigatório de máscaras por parte de toda a população, diagnóstico precoce de covid-19, notificação dos cidadãos que terão sido potencialmente expostos a risco de contágio, isolamento obrigatório de todos os casos confirmados, utilização de equipamento de proteção individual por parte dos profissionais de saúde, capacitação de profissionais de saúde e de grupos específicos, disponibilização de solução de base alcoólica em locais públicos com dispensador contactless, manutenção de todas as medidas de distanciamento social, ponderação individual do phase-out e efetivar novos investimentos no SNS.
Portugal, em estado de emergência até 17 de abril e onde o primeiro caso foi confirmado em 02 de março, está na terceira e mais grave fase de resposta à doença (Fase de Mitigação), ativada quando há transmissão local, em ambiente fechado, e/ou transmissão comunitária.
Os mais recentes dados oficiais dão conta de 504 mortos e 16.585 casos de infeção confirmados em Portugal.
Em todo o mundo, o novo coronavírus já provocou mais de 112 mil mortos e infetou mais de 1,8 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, quase 375 mil são considerados curados.