Foi o próprio Donald Trump quem inventou a palavra numa mensagem na sua rede Truth Social a defender as tarifas sobre produtos estrangeiros. “Os EUA têm uma oportunidade para fazer algo que já devia ter sido feito HÁ DÉCADAS. Não sejam fracos! Não sejam estúpidos! Não sejam PANICANOS (Um novo partido baseado em pessoas Fracas e Estúpidas!)”.Mas quem são estes “panicanos” contra os quais alerta o presidente dos EUA? Segundo a BBC, a palavra tanto pode juntar “panic” e “americans” como “panic” e “republicans”. Mas quer se refira a todos os americanos que estão em pânico com o impacto que as tarifas vão ter na economia do seu país, quer se limite aos membros do seu partido que desconfiam dos efeitos no bolso dos cidadãos e nos mercados mundiais, a verdade é que foi a forma que Trump encontrou para denegrir os que ousam duvidar da eficácia de uma medida que ele anunciara, mas que muitos duvidavam que fosse mesmo implementar. Sobretudo porque a consequência pode ser uma guerra comercial que vai envolver não só a América, mas o mundo inteiro - e já lançou ondas de pânico das bolsas europeias às asiáticas.E não sou eu que o digo, são alguns dos melhores economistas. A começar por Paul Krugman, Nobel da Economia 2008, que no podcast The Ezra Klein Show do New York Times explicou como as “tarifas recíprocas” de Trump têm “camadas e camadas de erros, mas o mais imediato é o facto de isto ser extremamente perturbador para a indústria transformadora dos EUA - e não um apoio para ela.” Ao jornal The Guardian, Joseph Stiglitz explica que as tarifas “tornaram os EUA um sítio assustador para investir”. E isso, diz o também Nobel, “corre o risco de levar ao pior dos mundos: uma espécie de estagflação.” Já o francês Thomas Piketty afirma à AFP que os EUA estão a “usar o resto do mundo como bode expiatório”, mas “não vai funcionar: o cocktail de Trump só vai gerar mais inflação e desigualdades”. Mas nem todos concordam. No Wall Street Journal, Art Laffer, conselheiro económico de Reagan, e Stephen Moore, que trabalhou na campanha de Trump em 2016, garantem que se a estratégia de o presidente levar outros países a negociar e baixarem as suas tarifas com os EUA resultar, “é bom para todos. E a economia vai melhorar”. Mas se escrevem que o sucesso lhe pode “dar o Nobel”, os dois economistas conservadores admitem que um falhanço “seria desastroso para os EUA e para a economia mundial”. Razões para panicar (sim, o verbo existe e até Marcelo Rebelo de Sousa o usou em 2014!)? Para já, Trump fez uma pausa de 90 dias na maior parte das tarifas, menos para a China, para a qual as subiu para 145%, mas parece ser muito cedo para respirar de alívio.Editora-executiva do Diário de Notícias