As histórias de Natal, aquelas que nos confortam o coração e nos reconciliam com o mundo, nem sempre chegam apenas pela mão da família ou das instituições sociais. Por vezes, surgem também a partir do universo empresarial. É o caso da iniciativa “Um Toyota, Uma Árvore”, que este ano se traduziu na plantação de 12 mil árvores autóctones. Desde o seu lançamento, em 2005, plantou já cerca de 225 mil árvores em várias regiões do país.A ideia que subjaz a esta iniciativa é de uma simplicidade quase desarmante: a mobilidade e o automóvel são indispensáveis ao funcionamento da sociedade contemporânea, mas, como tantas outras atividades humanas, geram impactos ambientais inevitáveis. Reconhecê-los e assumir a responsabilidade de os mitigar implica um compromisso contínuo com a sustentabilidade, a recuperação ecológica e o envolvimento das comunidades locais. Neste caso concreto, esse compromisso materializa-se num gesto claro e mensurável: plantar uma árvore por cada veículo Toyota vendido em Portugal.Tomei contacto direto com esta filosofia há alguns anos, aquando de uma visita ao edifício-sede do Grupo Salvador Caetano, em Vila Nova de Gaia. De um dos terraços avista-se uma extensa encosta de terreno contígua à fábrica, cuidadosamente tratada e povoada por árvores autóctones ainda jovens. Trata-se do Bosque Ser Caetano, um espaço que é, simultaneamente, um ativo ambiental e um lugar de fruição.O líder deste grupo icónico da indústria nacional, José Ramos, decidiu ir mais longe: estimou a pegada carbónica associada à atividade quotidiana dos trabalhadores da fábrica e mandou plantar o número de árvores necessário para compensar essas emissões. Apesar do evidente valor reputacional da iniciativa, a motivação nunca foi a visibilidade mediática, mas sim a concretização de uma boa prática ambiental e a criação de uma área natural de lazer ao serviço dos trabalhadores.Em 2025, a opção recaiu sobre uma plantação no Santuário da Senhora do Socorro, em Albergaria-a-Velha, numa zona profundamente afetada pelos incêndios florestais do ano anterior. Foram selecionadas espécies como Cercis siliquastrum (árvore-do-amor), Photinia ‘Red Robin’, Arbutus unedo (medronheiro) e Liquidambar, todas elas autóctones ou perfeitamente adaptadas, essenciais para restaurar a biodiversidade, absorver dióxido de carbono da atmosfera e prevenir a erosão do solo. O acolhimento deste gesto ficou bem patente na presença das forças e instituições locais, que reconheceram, no terreno, o valor devolvido à sociedade por uma das poucas grandes empresas nacionais que resistiram à tentação de se sedear em paraísos fiscais.Este é um exemplo – infelizmente ainda pouco frequente – que nos ajuda a acreditar no futuro. A responsabilidade social das empresas, em especial das maiores, que dispõem de mais recursos e geram maiores lucros, deixou de ser uma opção benevolente para se tornar um verdadeiro requisito daquilo a que hoje se chama “licença social para operar”.Professor catedrático