Um triste espectáculo na Assembleia da República

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Quando escrevo este texto ainda não são públicos os dados sobre a audiência televisiva do debate e votação na generalidade do Orçamento do Estado para o próximo ano mas, sinceramente, espero que na terça-feira não tenha sido elevada.

Aquilo a que se assistiu durante partes do debate só pode deixar envergonhado quem julga que na Assembleia da República estão alguns dos melhores oradores e representantes das classes profissionais a que pertencem.

Mas nada disso transpareceu no segundo dia da discussão sobre as qualidades, ou falta delas, do documento onde estão demonstradas as receitas e despesas que o Governo prevê existirem em 2026. Pelo contrário, quem assistiu à transmissão ouviu insultos, referências saudosistas, acusações (com menções a processos de pedofilia) e uma lista de processos judiciais ou suspeitas de ações criminosas visando elementos de um dos partidos.

Teve ainda a oportunidade de ver um líder partidário atirar folhas de papel para o chão uma a uma em jeito de desprezo por outra bancada. E depois quando as foi apanhar ainda recebeu aplausos dos seus companheiros. Ou serão seguidores à boa maneira de uma seita?

A todo este triste espetáculo, que em nada abona a favor da instituição onde se aprova legislação que gere a nossa vida, o paciente presidente da Assembleia da República foi pedindo calma e, a determinada altura, deixou escapar: “A democracia vai continuar independentemente da tentativa de criar incidentes para criar manchetes na imprensa.”

Ou seja, o orçamento era o menos interessante do dia, o importante era dar espetáculo. Só é pena que fosse tão mau.

Perante esta tristeza – frise-se que nem sequer foi a primeira vez que tal aconteceu desde que determinada força política surgiu – não admira que se ouçam na rua conversas que começam tranquilas e acabam quase em insultos, como presenciei muito recentemente numa esplanada. O que parecia uma troca de opiniões acabou com um dos intervenientes a gritar para o outro que não voltava a falar com ele. Isto com várias pessoas a assistir.

Mas, com os exemplos que surgem na televisão, quem pode criticar? Só resta mesmo pedir desculpa, com vergonha alheia, a quem não se revê nas atitudes dos deputados. E, se calhar, dizer “Chega” a essa forma bélica de estar.

Editor executivo do Diário de Notícias

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