Neste verão particularmente quente e seco, grandes incêndios têm assolado o sul da Europa. Portugal é o país europeu com maior percentagem de área ardida e chegam-nos vários relatos de descoordenação no terreno, de falta de meios, e até de populações que se viram sozinhas no combate às chamas. Três pessoas perderam a sua vida. Milhares de bombeiros estão há muitos dias a proteger populações, animais, bens e floresta. A resposta do governo tem sido pouco eficaz, com falta de clareza e de regularidade de informação, e até bastante falta de empatia e de consideração por quem está a viver momentos tão difíceis.Para a semana acontecerá uma reunião extraordinária da Comissão Permanente da Assembleia da República, onde as deputadas e os deputados terão a oportunidade de questionar o primeiro-ministro sobre os incêndios e sobre a resposta que tem sido dada, tanto no combate como no apoio às populações. É importante perceber o que não está a correr bem, para rapidamente corrigir, até porque o verão não acabou. E é muito relevante percebermos o que está a ser feito para apoiar imediatamente quem foi afetado pelos incêndios.Mas o debate não se esgotará nesta reunião. O verdadeiro combate aos incêndios faz-se com planeamento e preparação, e através de um conjunto de medidas que há muito estão identificadas mas que tardam em ser implementadas, para desespero de tantas pessoas. Muitas dessas medidas, aliás, enquadram-se numa preparação mais ampla: a resiliência do país a fenómenos extremos, sejam eles naturais ou não. E essa é uma discussão que não tem tido as consequências que devia.O investimento em meios humanos é essencial para o planeamento e a preparação do país. E isso passa pelo reforço do investimento, na garantia de melhores condições de carreira e de condições de trabalho na Proteção Civil ou nos Sapadores Florestais, a profissionalização dos bombeiros com a dignificação da profissão. O investimento na gestão da floresta, aliado ao restauro da natureza e à recuperação dos solos, é essencial para um país mais resiliente e para isso é preciso, de facto, valorizar a gestão da floresta, privilegiar espécies nativas e fugir ao lucro rápido e fácil de espécies como o eucalipto. É preciso garantir que a gestão da floresta e dos terrenos se faz em contínuo e ao longo de todo o ano e não apenas nos meses onde é preciso limpar - a limpeza tem de ser integrada nesta gestão sustentável. Mas este verão soubemos que a meta estabelecida de limpeza entre 2020 e 2024 está longe de ser atingida e o relatório da Agência para a Gestão Integrada dos Fogos avisa que a acumulação de vegetação é potencial para novos incêndios. Ao invés de um reforço no investimento numa boa gestão florestal, os números dos investimentos e recursos destinados à prevenção e gestão sustentável da floresta diminuíram.E há outras medidas de curto prazo que já poderiam estar implementadas. O dia do Apagão veio mostrar como Portugal não tem os mecanismos eficientes de comunicação com a população, que são tão relevantes em alturas de eventos extremos. Mas não tem havido a vontade de aprender e de agir de forma expedita para corrigir o que não está bem.O debate - e a ação - sobre a guerra aos incêndios não pode desaparecer com a chegada do outono. Só com medidas corajosas e ações concretas de planeamento e preparação se conseguirá que não haja mais verões como este.Líder parlamentar do Livre