Nesta semana agitada, dias em que tenho trocado impressões com pessoas de muitos países e de quase todos os continentes, cooperativistas com experiências e mundos diversos, escrevo esta crónica num intervalo que ofereci a mim próprio. Uns minutos de silêncio que me convocam para a urgência de não desistirmos de pensar, de não abdicarmos da curiosidade, das perguntas que ainda não foram feitas, das soluções que ainda não foram imaginadas. Minutos que me convocam também para exemplos concretos, da vida a correr nos meus olhos, da grandiosidade que vejo, muitas vezes, nas pequenas coisas, nos pequenos projetos, nas ideias que nascem com respeito pelas raízes.Vem-me à cabeça uma viagem de carro pela França rural. Vi cadeias de comida rápida, supermercados com miúdos a trabalhar nas caixas. Miúdos que repetem palavras e gestos como se fossem máquinas burocráticas. Miúdos que se vão transformando nas palavras que dizem. Palavras tão artificiais como os hambúrgueres que lhes passam pelas mãos, sem gosto, sem identidade, sem vida. No entanto, nesta viagem estive e conversei com jovens que insistem em fazer diferente. Jovens que formam empresas e cooperativas, gente que está ou regressa ao campo e que produz queijo, vinho, azeite, patés e doces. Cooperativas que vendem os produtos com margens elevadas. Por serem produtos únicos, por não existirem em mais lado algum, por terem e criarem valor para eles e para as suas comunidades. Numa pequena vila entrei num supermercado e procurei um paté. Para minha deceção, pareciam artificiais, com cores que lembravam gomas e o sabor não era diferente do que encontraria em qualquer parte do mundo. O atendimento também me desiludiu. Sem paciência, cansados e incapazes de responder às perguntas que me ocorreram. Mais uns quilómetros e voltei a parar o carro. Entrei numa cooperativa de uma área de distribuição, a “Super U”. Estava uma pessoa no atendimento da charcutaria e pedi-lhe uma sugestão para o paté. Muito simpática, sugeriu-me um de canard com avelãs torradas e cogumelos da região. Depois, apontou para um queijo e perguntou-me se não desejava provar um vinho da cooperativa da região e um pão com trigo francês. A jovem sorriu-me genuinamente e deu-me os parabéns pela escolha. Perguntei-lhe da razão para estar feliz e ela, desarmante, respondeu-me que era associada da cooperativa e estava empenhada em ajudar a economia local, a sua terra. É a história do cooperativismo e das cooperativas. E nessas estradas francesas, como em Espanha ou Itália, vi grandes superfícies em declínio e pequenos negócios a florescer. Acredito que a tendência no futuro poderá passar por aqui, fazer crescer o mercado a partir da diversidade, com estruturas de gestão profissionais em que as caixas agrícolas e outras cooperativas podem e devem ter um papel. Por vezes, o que é grande pode ser grandioso. Mas cada vez mais há urgência, até para a sustentabilidade e a nossa saúde, que o pequeno seja reconhecido, valorizado e comprado. Small is Beautiful, escreveu Schumacher, em 1973. Um livro mais atual agora do que quando foi escrito. Presidente da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedrasmanuel.guerreiro@ccamtv.pt