Um milhão por dia taxado como devia

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Elon Musk tem uma fortuna de 250 mil milhões de dólares. É difícil imaginar a escala deste número, porque sai da nossa capacidade de avaliar proporções. Mas vamos tentar.

O prémio do Euromilhões desta semana é de 64 milhões de euros - uma fortuna para qualquer pessoa. Se, por absurdo, quem ganhar este prémio gastar um milhão de euros por dia, a fortuna esvai-se em dois meses. Mas se Elon Musk gastar um milhão de euros por dia, demorará 685 anos a gastar toda a sua fortuna. 685 anos a gastar um milhão de euros por dia! Só esta comparação permite perceber a escala desta fortuna absurda.

Mas vamos a outra: a fortuna de Elon Musk é quase equivalente ao PIB português, ou seja, a tudo o que Portugal produz num ano, ou seja, a fortuna de Elon Musk é superior ao PIB de mais de 75% dos países deste planeta.

Mas vamos a uma última comparação: o homem mais rico do mundo em 1900, Andrew Carnegie, tinha uma fortuna de cerca de 13,6 mil milhões de dólares a preços atuais - o que é 20 vezes menos do que o que Elon Musk possui.

Peguei em Elon Musk como exemplo, mas há mais bilionários por esse mundo fora com esta escala de riqueza nas suas mãos. Cerca de 3000 pessoas detêm, no seu conjunto, 14,4 biliões de dólares - o equivalente a 13% do PIB mundial. Como achamos normal e legítimo a acumulação de tanta riqueza nas mãos de tão poucas pessoas?

Até porque associado à riqueza vem também um poder desmesurado - lembro que muitos detém órgãos de comunicação social e redes sociais. São pessoas que não foram eleitas democraticamente, mas que têm uma enorme influência nos destinos do mundo e da Humanidade.

Voltando a Elon Musk, é indiscutível o papel que teve na eleição de Donald Trump, não só porque se envolveu diretamente na campanha, como a financiou com uns míseros 130 milhões de dólares. E é indiscutível o benefício direto que disso obteve, com um aumento da sua fortuna no dia a seguir às eleições e com a sua nomeação para um cargo na Administração Trump. A aliança entre autocratas e bilionários é sempre um ganho mútuo e uma enorme perda para a democracia.

Não há argumento possível - nem mérito, nem empreendedorismo, nem genialidade - que justifique fortunas desta escala. É um problema do sistema que temos. Mas ainda mais injustificável é estes bilionários, estes super-hiper-meg-ricos, pagarem em proporção menos impostos do que o comum dos mortais. No entanto, é isso que acontece.

Por iniciativa do Brasil, com base no relatório do economista Gabriel Zucman, foi discutida no G20 uma proposta de taxação dos bilionários a nível mundial. Uma proposta modesta - de taxação de apenas 2% -, que permitiria uma receita anual de 200-250 mil milhões de euros para financiar os grandes desafios que se colocam à Humanidade: transição justa e mitigação dos efeitos das alterações climáticas ou combate à pobreza e à fome. Uma receita justa e que beneficiaria toda a Humanidade.

A proposta não avançou totalmente no G20, mas continua em cima da mesa e deve ser debatida em todos os fóruns internacionais. É essa a pressão que o Livre continuará a fazer sobre o nosso Governo.

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