Tunísia 2025 – Julgamento 2013 – 'Les Enjeux!'
O caso é “simples”, no sentido da descrição objectiva da acusação, mas complexo na gestão dos equilíbrios (todos) e rivalidades políticas do antes, durante e pós Primavera Árabe. Será a conclusão deste processo que fechará este capítulo da História da Tunísia, iniciado ainda em dezembro de 2010. Qual processo?
O processo judicial aberto em 2022 ao ex-primeiro-ministro (PM), Ali Larayedh que, nos escassos dez meses em que exerceu (março de 2013 a janeiro de 2014), terá “fechado os olhos” ao recrutamento jihadista, dos salafistas do Ansar A-Shariat, no sentido da guerra na Síria, na Líbia e do treino no Iraque. Segunda audiência a 25 último, próxima em abril.
Les enjeux – O que está em jogo?
Larayedh era também à época secretário-geral do partido islamista Ennahda (Renascença, como a nossa Rádio) e este alegado laissez faire do PM tunisino, criou um ambiente propício no país para a “caça ao comuna” e ao “maricas”, ao apóstata em geral e que culminou com os assassinatos de Chokri Bellaid e de Mohamed Brahmi (“bloquistas tunisinos”), em fevereiro e julho de 2013.
Deste momento de choque, indignação e mobilização popular, lembro-me de membros das FEMEN em cima de capôs de carros, em tronco nu e sem soutiens, prestes a saltarem para as barbas dos islamistas que do outro lado se afastavam enquanto baixavam a cabeça e fechavam os olhos, para que a virtude não lhes caísse na lama!
Este foi o cenário em 2013, com um governo de coligação liderado por um islamista a esboçar a nova Constituição da República e as mulheres e a esquerda tunisinas já a “chorarem que isto só lá vai com um Ben Ali em cada esquina”!
O cenário em 2025 abre a possibilidade da consolidação, no sentido de a Tunísia e o PR Kais Saied, provarem a existência de separação de poderes no país, garante da democracia.
Este parece-nos aliás, como a opção menos complicada e controversa, no sentido da afirmação do sistema/regime (os tunisinos precisam de um sinal de que a lei é igual para todos) e da afirmação do próprio PR que, de derrota em derrota, de decisão polémica em decisão polémica, também precisa desta vitória (ganhar sem interferir), para poder dizer à nação: “Espero que compreendam agora todos os ziguezagues que provoquei e todos os incómodos que vos causei. O objectivo era chegarmos aqui com condições para fechar este capítulo comme il faut, com o sentimento de que a transição está em curso, é justa, democrática e cega!”
Quanto ao debate, “haverá espaço para partidos Islamistas nas democracias”, não é tema para o dia de Eid (festa) que hoje se celebra, com o fim do mês de Ramadão.
A esse propósito desejamos Ramadan Moubarak/Abençoado a Todos/as muçulmanos/as do mundo!
Politólogo/Arabista
O Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.