Trump, o marciano

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"Escolhemos ir à Lua”, afirmava John F. Kennedy a 12 de setembro de 1962, anunciando o objetivo de colocar um homem no satélite da Terra até ao fim da década. Agora, passadas mais de 60 anos, um outro presidente prometeu levar a bandeira americana desta vez até Marte. “Prosseguiremos o nosso destino manifesto até às estrelas, lançando astronautas americanos para plantar as estrelas e faixas no planeta Marte”, anunciou há dias Donald Trump, no discurso de tomada de posse como 47.º presidente dos EUA.

O fascínio pelo espaço não é nada de novo e há muito mobiliza as grandes potências. O discurso de Kennedy surgia um ano depois de a União Soviética ter colocado o primeiro homem no espaço: Yuri Gagarin. Mas os EUA recuperaram o atraso e, em 1969, Neil Armstrong tornava-se no primeiro homem a pisar a Lua.

Quanto a Trump, no primeiro mandato, parecia focado em reavivar o programa lunar, voltando a levar humanos até ao satélite da Terra, cinco décadas depois do último. Mas agora virou o foco para Marte, apesar do maior grau de dificuldade. A distância entre a Terra e Marte varia entre os 54,6 milhões de km e os 401 milhões de km, mas mesmo quando estão mais próximas, uma ida e volta ao Planeta Vermelho, em vez dos três dias que demora uma viagem à Lua, levaria uns três anos. Mas o maior desafio talvez seja a atmosfera de Marte. Basta ir ao site da NASA para ficar a saber que esta é composta em 95% por dióxido de carbono, além de as temperaturas no inverno marciano descerem aos 125 graus negativos.

Até hoje, apenas robôs chegaram a Marte, mas a ideia de enviar humanos para aquele planeta não só já fora antes mencionada por Trump, como é um velho sonho do seu aliado Elon Musk. O multimilionário dono do X, da Tesla e fundador da SpaceX anunciou em setembro que em 2026 vai enviar cinco starships para Marte, sem tripulação, para testar a sua capacidade para sobreviver à entrada na atmosfera. Se esse ensaio correr bem, Musk quer aproveitar o momento seguinte em que os dois planetas estiverem mais próximos, em 2028, para enviar outras naves, desta vez tripuladas.

Apesar do contrato de quatro mil milhões que tem com a NASA para construir uma nave que leve astronautas da órbita lunar até à superfície da Lua, Musk tem repetido que a Lua é uma “distração” e que a América deve ir “direta para Marte”.

Com o século XXI a deixar adivinhar uma nova corrida espacial, em que a EUA e Rússia se juntam países como a China, a Índia ou o Japão, além dos europeus, o presidente americano parece decidido a deixar a conquista de Marte no seu legado. E já se vê imortalizado nos livros de História como Trump, o marciano.

Editora-executiva do Diário de Notícias

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