Trans Med Migrações
O Senhor Embaixador da Líbia em Portugal, Saad Erhayem, já aqui tinha assinalado o “Fórum Trans Med Migration – TMMF”: uma oportunidade para enfrentar a imigração ilegal, que se realizou em Trípoli na quarta-feira passada. A 4 de julho, o Senhor Embaixador identificou as temáticas e os desafios que estariam em cima da mesa a 17. Passados dois dias do fórum, é meu propósito prospectivar as inevitabilidades dos próximos 50 anos e de como isso afectará o norte de África, os fluxos e modelos migratórios, bem como afectará a Europa.
Em primeiro, é preciso ter em conta o contexto europeu de guerra, fuga/bloqueio ao gás e economia russa, bem como uma exigente agenda de descarbonização, que viu catalisador precisamente com o início da guerra.
Em segundo, entender e assumir que agora é o ex-colonizador que depende do ex-colonizado. Neste sentido, “o petróleo é como o algodão, não engana”! E também, nunca mais acaba, de acordo com as últimas descobertas, conjugadas com o gás natural. “Hidrocarbonetos rules” em África, o que empurra a Europa para sul enquanto solução próxima e exequível e não por mero capricho anti-Rússia.
O ponto de partida macro para prospectivar os próximos 50 anos está dado e no cenário micro, há que considerar dois projectos das duas “superpotências do Magrebe”, Marrocos e Argélia. Ambos têm projectos de “profundidade estratégica para a Europa” (numa leitura exclusivamente europeia e visto do conforto de um satélite)! Dois gasodutos até à Nigéria, o “Nigéria-Marrocos” de Tânger a Lagos (mais precisamente a Escravos, o nome da terra) e o Trans-Sahariano de Hassi R’Mel na Argélia, a Warry na Nigéria.
Estas são as “ogivas nucleares destas superpotências vizinhas” e a paridade entre ambas vai ser medida em quilómetros construídos de um lado e doutro. Imaginando tudo pronto, imagino também as ramificações possíveis a partir destes dois eixos, na construção de uma “teia gasifica” que iluminará o Grande Sahara à noite, alterando por completo a economia e modos/hábitos de vida local.
Ambos gasodutos a bombarem de sul para norte, o sul mais próximo já percebeu que tem um adquirido inegociável para a Europa. Consequências?
A Europa também terá que entender e assumir que presentear os “bem-comportados” com o chamado Estatuto Avançado, já não chega. Eles agora têm a chave na mão e vão querer a substituição de tarifas alfandegárias preferenciais por um qualquer modelo de integração política ainda por criar, garante de um fornecimento constante do gás canalizado. A solução para uma “Sines H2” depende do “Nigéria-Marrocos”.
Em conclusão e conjugando a realidade Marrocos/Argélia, com os alinhamentos Egipto/Israel/Líbano também no campo da extracção de gás, transformação em hidrogénio verde e distribuição, é muito provável que dentro de 50 anos o mapa da União Europeia se confunda com o mapa do Império Romano!