A valorização do serviço e do talento militar é essencial para a soberania e coesão nacional. Num contexto global de rápida transformação tecnológica e competição por talento qualificado, torna-se ainda mais importante reforçar o papel das pessoas nas Forças Armadas e reconhecer o seu contributo para o desenvolvimento do país.A Defesa Nacional assenta tanto na qualidade dos seus meios e infraestruturas, como no valor das pessoas que servem nas Forças Armadas. A leste vemos como a determinação e a competência coletiva do país podem sustentar a sua soberania. O talento e a determinação dos militares são fatores críticos de eficácia e resiliência institucional.Reter talento nas Forças Armadas é uma questão de soberania e continuidade do serviço. O talento militar reflete o potencial nacional e traduz, em cada geração, a capacidade de inovação e resiliência da sociedade portuguesa.A profissão militar é uma escola de vida que ensina a servir com coragem, discernimento e competência. Se outrora o talento se media pelo dever e sacrifício, hoje mede-se também pela capacidade de inovar e criar valor.As novas gerações procuram um sentido de missão e de contribuição efetiva. O desafio da Defesa é oferecer-lhes um significado maior: proteger vidas, garantir liberdade e defender valores. Ambientes de inovação como o exercício Robotic Experimentation and Protoyping with Maritime Unmanned Systems, o NRP D. João II ou o Centro de Experimentação Operacional da Marinha (CEOM) são instrumentos tecnológicos e, simultaneamente, espaços de atração e retenção de talento. Quando um jovem reconhece que o seu trabalho contribui para a segurança e o progresso do país, o vínculo à instituição aprofunda-se.A comunicação institucional deve reforçar o sentido de pertença e de missão, acompanhando o propósito com oportunidades reais de crescimento. A permanência depende da perceção de futuro e reconhecimento. Carreiras flexíveis, que integrem funções operacionais, técnicas e de inovação, fortalecem a motivação. Experiências em unidades tecnológicas, como o CEOM, devem ser valorizadas como contributos para a Defesa do futuro.A mobilidade civil-militar representa uma oportunidade de desenvolvimento e partilha de conhecimento dual. A participação de militares em projetos tecnológicos ou académicos reforça uma Defesa integrada e colaborativa. A progressão deve premiar mérito, criatividade e responsabilidade, ajustando compensações nas áreas críticas, como cibersegurança ou Inteligência Artificial (IA), para assegurar proximidade com o contexto civil e promover a retenção.A transformação das Forças Armadas exige uma gestão eficiente das áreas de apoio, libertando recursos para as missões nucleares. A externalização de serviços, quando sob direção militar, não reduz soberania, mas amplia-a, tornando o conhecimento interno motor de eficiência. Por outro lado, a externalização não substitui competências militares, mas liberta-as, focando-as onde mais importa. Tal como noutras forças europeias, a gestão inteligente das competências é essencial. Cada militar é um ativo único, e a integração das suas capacidades gera impacto coletivo. Mapeadas e coordenadas, tornam-se força organizacional e fator de superioridade.Carreira, mobilidade, especialização e gestão de recursos convergem num mesmo objetivo: transformar a carreira militar num percurso de valorização contínua, onde servir o país e crescer pessoalmente se tornam dimensões inseparáveis.No contexto tecnológico atual, o conhecimento é soberania. A formação contínua em IA, ciência de dados, cibersegurança, robótica e gestão da inovação deve ser estruturada num Campus de Inovação da Defesa, articulado com universidades e centros tecnológicos, para consolidar uma base de competências multidisciplinar. A inovação tecnológica, por mais avançada que seja, só se traduz em capacidade real quando existe talento humano capaz de a interpretar, integrar e aplicar operacionalmente.A formação técnica e humana reforça a cidadania e o contrato entre Estado e indivíduo. A liderança estratégica deve valorizar e desenvolver o talento, promovendo uma cultura de reconhecimento e acompanhamento próximo. Programas de mentoria estruturada ajudam os mais jovens a construir propósito e pertença. O prestígio institucional reforça-se diariamente, pois distinções como o Prémio de Inovação da Marinha valorizam o capital humano e o trabalho coletivo.É necessário fomentar uma consciência nacional sobre o valor do talento militar. O recrutamento por terceiros não é facilitado se houver reconhecimento público de que o capital humano formado nas Forças Armadas é um ativo nacional. Valorizar o militar é valorizar o cidadão que protege o bem comum. A perda de quadros qualificados implica a perda de conhecimento operacional, científico e organizacional acumulado, compromete a autonomia estratégica, gera dependência externa e impacta a credibilidade internacional do país. Cada militar representa também um investimento público em competências técnicas e humanas de elevado valor económico, cuja perda fragiliza não apenas a Defesa, mas também a capacidade competitiva e tecnológica do país. A retenção de talento é, por isso, questão de soberania.A qualidade de vida deve integrar a equação ao garantir estabilidade, apoio familiar e equilíbrio entre exigência e dignidade, reforçando o sentido de lealdade. A valorização salarial, ajustada à qualificação e responsabilidade, é determinante para a motivação e permanência. Preparar a transição para a vida civil, valorizando a experiência militar como capital de liderança e conhecimento, demonstra maturidade institucional e respeito. Um militar que sente esse reconhecimento permanece por convicção e compromisso. Este equilíbrio entre quem serve e quem é servido constitui a base da relação de confiança entre o Estado e os seus militares.O reconhecimento e apoio a quem serve são a base da confiança entre a Nação e os seus servidores. Sem confiança, não há continuidade nem futuro. Tal como a tecnologia, os meios e as infraestruturas, o talento é uma capacidade estratégica – talvez a mais determinante de todas. Investir no talento e valorizar o serviço militar é garantir a continuidade e credibilidade das Forças Armadas, assegurando a soberania e a resiliência nacional.Com a trilogia Tecnologia, Mar e Defesa procurou-se refletir três dimensões inseparáveis da soberania nacional: a capacidade tecnológica como instrumento de autonomia, o mar como espaço natural de afirmação estratégica e o talento humano como fator de resiliência. Estes três eixos – tecnológico, marítimo e humano – sustentam a relevância de Portugal como Nação Atlântica, Europeia e Global.Comandante, Chefe da Divisão de Inovação do Estado-Maior da Armada