Rir é o melhor remédio…ainda que o tema seja extremamente desagradável
Há uns anos escrevi a crónica “Quem quer casar com a minha vaca?”, aqui no Diário deNotícias, que rapidamente se tornou viral e levou a um debate na TVI sobre o programade entretenimento que eu, claramente, estava a criticar. Um programa que veio depois a ser cancelado. Logo de imediato, também a Joana Marques pegou no tema e, acreditem, foi extremamente desagradável. Recordo-me de me ter sentido, desde logo, muito irritada, depois apenas chateada e, por fim, após ouvir novamente, dei algumas gargalhadas.Penso que é este o poder do humor, ainda que possa ser sentido, numa fase inicial, como algo desagradável para quem é visado de forma mais direta.
O humor ajuda-nos a olhar para as coisas de outra perspetiva e a encontrar o lado cómico das mesmas. A conseguirmos rir - dos outros e, sobretudo, de nós próprios.O humor é, também, uma estratégia de coping muito poderosa.
O que significa que nos ajuda tantas vezes a lidar com as situações mais difíceis e embaraçosas. Para quem lida diariamente com a dor e o sofrimento, por exemplo, rir é uma forma de escape, uma tábua de salvação. Por isso, ouvimos anedotas durante uma autópsia, fazem-se piadas com o desamparo dos outros e brinca-se com as situações mais adversas que possamimaginar-se. Não se trata de gozar com o sofrimento alheio, nada disso.
Trata-se, tão somente, de encontrar mecanismos de defesa que nos ajudem a tolerar essa dor, a evitar a sensaçãode desprazer e a sobreviver psiquicamente. Do ponto de vista físico, rir faz também muito bem à saúde – aumenta o oxigénio no sangue, melhora a saúde cardíaca e alivia o stress.À mão tenho sempre um objeto que muito valorizo – um nariz de palhaço. Não que saiba fazer humor como os palhaços ou humoristas, nem tão pouco tenho essa pretensão,mas porque me ajuda a recordar a importância do riso.
Rir é mesmo o melhor remédio, ainda que o tema possa ser extremamente desagradável.
*Rute Agulhas é psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal