Quem tem medo de Alexandra Leitão?
Carlos Moedas chegou à política para ser o emissário de Passos Coelho nas negociações com a troika e tem o descaramento de dizer que Alexandra Leitão representa um “PS radical”. Pior do que isso, olha para si mesmo como o bastião de uma moderação que mais ninguém lhe reconhece.
Na primeira vez que falou na candidata que vai defrontar nas urnas, Moedas conseguiu o pleno de se enganar na forma e no conteúdo. Ao sair à defesa quando nem era a sua vez de jogar, revelou a precipitação de uma saída em falso. E considerou “radical” a líder da bancada parlamentar que viabilizou o primeiro orçamento do seu partido no governo.
O papão da “esquerda radical”, que tem sido o alfa e o ómega de todas as críticas da direita, não revela apenas pouca criatividade. Mostra, sobretudo, desconhecimento sobre o que vai ser esta campanha eleitoral.
Alexandra Leitão não veio ver as vistas. Traz vontade de trabalhar, energia e soluções, algo de que ninguém duvida - mas, pelo sim pelo não, talvez seja melhor avisar Moedas.
Já Carlos Moedas muda de casaco quando lhe dá jeito. Por exemplo, no caso do Alojamento Local, em que já foi a manifestações ao lado dos proprietários contra a regulação do setor e em que já se preocupou mais com o bolso dos turistas do que com os lisboetas sem casa, começou agora a defender limites à atividade, num exercício de contorcionismo.
Acrobacia é também empatar a providência cautelar da oposição que podia parar as obras ilegais no aeroporto de Lisboa, depois de assumir que nada podia fazer para travar o aumento de voos. Ao perceber a direção do vento, Moedas “o moderado”, acompanha. Por isso, tem criado alarme social com um discurso securitário e deu ordens ilegais à Polícia Municipal para efetuar detenções.
Moedas “o moderado” cultiva a imagem de alguém que não é, faz o que ninguém vê e tem obra que ninguém conhece. Com a cidade cada vez mais suja, tem sido incapaz de melhorar os circuitos e a frequência da recolha do lixo e é desmentido pelos sindicatos que alertam para a falta de trabalhadores e para a inoperacionalidade de meios. Com a cidade a viver uma crise na habitação, e apesar dos financiamento do PRR, está a construir ao ritmo dos mandatos anteriores, a quem acusa de ter feito pouco - “esquecendo” que nessa altura não havia apoios extraordinários e a prioridade era limpar a dívida de quase mil milhões de euros herdada do PSD.
Moedas, que não herdou dívidas, mas um orçamento de 1300 milhões, não fez nada. Com uma cidade entupida de carros, a Carris tem a velocidade comercial em queda e é recordista absoluta em reclamações. A ideia de enterrar a linha de Cascais caiu por terra; os planos de ligação de Lisboa a Oeiras não saíram do papel; a aposta em ciclovias parou.
O “estrangeirado, cosmopolita”, como lhe chamou Passos Coelho, não nasceu para lidar com questões mundanas. Agora que vai enfrentar uma mulher empenhada, frontal e séria, convém não ter medo de terminar a frase. Alexandra Leitão é radical, sim, radicalmente diferente de Moedas. E ainda bem para os lisboetas.
Presidente da Junta de Freguesia de Alcântara