Quem quer ser o marido da Carochinha?
Um dos assuntos que irá dominar o ano iniciado é a eleição do novo Presidente da República. Talvez nunca se tenha visto tantos pseudo-pré-candidatos como agora. Há dois que já se afirmaram na corrida, com a mesma matriz, embora tenham tomado caminhos diferentes: Joana Amaral Dias (JAD, apoiada pelo ADN) e André Pestana (AP, sem apoio partidário, possível independente à Esquerda, se reunir assinaturas). Ambos de formação marxista/trotskista: JAD foi do BE, depois apoiou Mário Soares e Jorge Sampaio; foi da coligação PTP/MAS, à constituição do Agir, passou pelo Nós, Cidadãos!, e chegou ao ADN, indo da Extrema-Esquerda à Extrema-Direita. AP passou do PCP ao BE, fundou o MAS, imiscui-se na luta sindical pela Fenprof e depois fundou o STOP, olhando agora para a luta nas escolas como um trampolim político.
Sem resolução está o PS: Mário Centeno não quer largar o osso e sempre tem ficado melhor nas sondagens/estudos de opinião sobre presidenciais que os outros. Augusto Santos Silva, sem noção, continua a deixar no ar uma candidatura; António Vitorino deu sinais de vida e António José Seguro pode ver a sua figura ser catapultada na opinião pública com um novo programa televisivo. Também podem ser nomes a queimar, como muitas vezes se faz em política, para se surpreender o eleitorado com um D. Sebastião em potencial. Quem gostaria de tomar essa forma talvez seja Ana Gomes, a eterna candidata, que pode beneficiar de dois espaços: feminino e televisivo. Falando neste último, ao Centro-Direita temos Marques Mendes (MM), ainda não-assumido candidato, mas que se comporta como tal, aproveitando a sua aura de político experiente, afirmando-se mediador, aquele que estabelece pontes entre as margens conturbadas da Esquerda e da Direita. O PSD tem diversas possibilidades para além do actual comentador: nomes surgiram como Aguiar Branco ou Pedro Santana Lopes, embora muitos queiram Passos Coelho. O Chega conta com André Ventura, que pode ter uma votação considerável, a IL não se pronuncia, e depois temos os pequeninos esquerdistas: PCP, PAN, Livre e BE, estes dois últimos possíveis apoiantes do candidato do PS.
No entanto, quem se sobrepõe a todos, pelas sondagens e pela figura seráfica e institucionalista, é o Almirante Gouveia e Melo. Não tendo ainda formalizado a candidatura, o certo é que tem vindo a preparar o terreno há muito tempo, desde a altura do COVID. Já se tornou um caso de estudo. Não ficaria admirada que os partidos da rotatividade se unissem para o apoiar, ao perceberem que o povo o vê como um D. Sebastião do século XXI. É possível que Gouveia e Melo se torne o João Ratão e case com a Carochinha-República. Mas todos nós sabemos como acaba o conto, e vimo-lo com o actual Presidente da República: tendo começado como o Presidente mais popular de todos os tempos, arrisca-se a acabar o mandato como o menos popular, estando o povo necessitado de rigor institucional. Veremos até quando essa necessidade.