Quem e quantos somos?

Todos se pronunciam com certezas apodícticas fundadas em percepções. Isto é, convertem em verdades fundamentais e indiscutíveis afirmações que condicionam qualquer raciocínio ou pensamento posterior, ainda que nada do que afirmam resulte de uma necessária e inultrapassável dimensão quantitativa.
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A demagogia, a falsidade. O esquecimento, a hipocrisia, a inveja entra-nos pela porta dentro sempre que falamos de população.

Todos se pronunciam com certezas apodícticas fundadas em percepções. Isto é, convertem em verdades fundamentais e indiscutíveis afirmações que condicionam qualquer raciocínio ou pensamento posterior, ainda que nada do que afirmam resulte de uma necessária e inultrapassável dimensão quantitativa.

O mundo tem mudado muito ao longo das últimas décadas. Nações outrora prósperas, definham. Continentes onde as pessoas nasciam, viviam e morriam no mesmo local vêem hoje muitos partir. Países que há trinta ou quarenta anos viam partir os seus à procura de uma vida melhor vivem hoje um avassalador “Inverno demográfico”.

E, enquanto tudo isto acontece, Portugal, e, com ele, a Europa foi-se esquecendo de prever e, consequentemente, de prover as adequadas soluções, que o mesmo é dizer as adequadas políticas públicas.

E não é possível conceber adequadas políticas públicas sem conhecer, com rigor, a realidade.

Quando, nos jornais de Agosto, vi a notícia sobre a notação da S&P, coloquei-me algumas questões a que não sei responder, mas a que entendo essencial responder.

Aquela agência afirma que Portugal vive um envelhecimento populacional que deverá intensificar a escassez de mão de obra, que a população empregada é de 5.2 milhões de pessoas e que os residentes estrangeiros serão 10% da população.

Ao mesmo tempo, a imprensa refere que, em Portugal, cerca de 1.3 milhões de cidadãos que descontam para a segurança social são estrangeiros.

Dito com clareza. Esta é uma realidade que ninguém previu e à qual, consequentemente , ninguém proveu.

Para a agravar a dúvida, o Presidente da República disse recentemente: “Hoje, está Portugal aqui. Estamos aqui 30 milhões. Os 11 que vivem dentro do território e os 18/19 que vivem pelo mundo.”

Por isso me parece essencial que, neste dealbar de uma nova realidade, saibamos:

a) Quantos são os portugueses de origem, que idades têm, onde vivem;

b) Quantos são os portugueses naturalizados, que idade têm e onde vivem;

c) Quantos não portugueses vivem em Portugal, que idade têm e onde vivem;

d) Quantos não portugueses vivem em Portugal e aqui trabalham e quantos não trabalham e porquê;

e) Quantos não portugueses vivem em Portugal e querem estabelecer a sua vida futura em Portugal;

f) As nossas infra-estruturas, serviços e zonamento do território estão dimensionados para quantos cidadãos;

g) A economia portuguesa para manter as suas actuais características e níveis de crescimento precisa de quantos trabalhadores;

h) A economia portuguesa, num modelo de maior valor acrescentado, precisa de quantos trabalhadores;

Entre tantos estudos que se fazem em Portugal e tantos dados que são recolhidos, estou convicto que um profissional qualificado que recolha e trate a informação já existente nos poderá dar a informação quantitativa necessária.

Até lá, estamos no domínio do “achismo “, da demagogia, da xenofobia e da exploração do pior que os seres humanos incorporam e são capazes.

Diário de Notícias
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