Em 2021, 83 mil lisboetas votaram na coligação liderada por Carlos Moedas, PSD/CDS. Os 80 mil que votaram no PS/Fernando Medina provavelmente não queriam, mas acabaram por garantir a Moedas a maioria absoluta que este não teve nas urnas.Com efeito, Moedas contou com o apoio do PS para viabilizar, ano após ano, todos os orçamentos da Câmara e das empresas municipais, a generalidade das alterações orçamentais (incluindo a que retirou 4 milhões de euros à Carris para os entregar à websummit), as Grandes Opções do Plano, as decisões em matéria de impostos (como a injusta “devolução de IRS”, que privou a Câmara de 270 milhões de euros em quatro anos), os licenciamentos urbanísticos, incluindo os mais polémicos, com a incessante aprovação de hotéis, mesmo em locais onde podia haver mais habitação. A lista é longa. Tudo isto sem impor nenhuma condição. Moedas podia ter sido condicionado na sua acção. Assim o exigia uma oposição responsável e consequente. Podia ter sido obrigado a negociar. Podia ter sido possível poupar a cidade a decisões erradas. Lograr algumas decisões positivas, mesmo que a contragosto do presidente. Mas não. A postura do PS garantiu que Moedas, basicamente, fez o que quis, salvo uma ou outra excepção.A cidade que hoje conhecemos não nasceu em 2021. O PS, que durante 14 anos teve nas mãos o governo da cidade, tem responsabilidades nesta cidade de exclusão: incentivaram a especulação imobiliária, alienaram património municipal, converteram habitação em mercadoria, trocaram a casa do vizinho por alojamento local, degradaram e externalizaram serviços públicos essenciais ao bom funcionamento da cidade.A vitória de Moedas/PSD/CDS, inseparável do descontentamento gerado pelas consequências da gestão PS, não resolveu nenhum problema. Pelo contrário, agravou-os.Aqui chegados, não se vislumbra o mais ténue exercício de autocrítica por parte do PS. A sua candidata, Alexandra Leitão, afirmou mesmo (num debate na rádio Observador, na passada sexta-feira) que o PS não se arrepende do que fez, sendo legítimo supor que faria – fará – tudo igual.É neste contexto que Davide Amado, presidente da concelhia de Lisboa do PS, neste jornal, num texto intitulado Avante Carlos Moedas, leva a cabo um lamentável exercício de pura desfaçatez, ensaiando a tese (que não pode deixar de soar a algum desespero) de que votar na CDU é desperdiçar o voto, e que é, de facto, votar em Moedas.Quem recorre a esta chantagem sobre o eleitorado está a confessar a própria incapacidade: sabe que, no confronto de ideias, de projectos, de visões de cidade e na avaliação da competência das equipas, já perdeu.Lisboa precisa de um projecto político capaz de romper com a engrenagem que tem servido sempre os mesmos interesses. Lisboa não é mercadoria, é morada. Esta é a escolha que está diante de nós: ou votamos com confiança num projecto que abraça os anseios e as aspirações da maioria da população, ou cedemos ao mal menor e acabaremos, como sempre, com mais do mesmo, ou pior. A CDU quer mudar a cidade, não apenas os ocupantes das cadeiras dos Paços do Concelho. Candidata da CDU à Presidência da Assembleia Municipal de Lisboa