Quando a emoção domina, os políticos perdem o foco

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Em Portugal a emoção, chamemos-lhe assim para não usar uma palavra pior, domina o espaço público. Não a racionalidade, nem a análise e a aposta em mudanças estruturais que possam melhorar o País.

Não, o que conta é a resposta ao imediato, seja das notícias ou das queixas das populações. Um fenómeno que é ainda mais visível quando estamos em período eleitoral, momento em que os principais responsáveis políticos levam para os seus discursos o tema que está a dar esquecendo todos os outros assuntos que ainda dias/semanas antes eram essenciais discutir.

Querem exemplos? Por estes dias a habitação – ou a falta dela – tem dominado as intervenções dos principais partidos. Adificuldade de acesso a uma casa, as barracas que cada vez mais se voltam a ver em algumas zonas das maiores áreas urbanas, ou o que o Governo entende como “valor moderado” para uma renda foram pontos de discursos e declarações várias.

Para que fique claro: o assunto é bastante importante e merece o destaque que se lhe está a dar.

Mas, a verdade, é que os políticos que estão em campanha perceberam que este tema é impactante para as populações e é o que agora mais atenção recebe e, por isso, esqueceram-se de um outro assunto muito relevante e que até há dias dominava as suas (deles) preocupações.

Refiro-me aos problemas do Serviço Nacional de Saúde que de repente deixaram de ser focados.

Nos últimos dias não se tem ouvido nenhum responsável falar sobre os bebés que nascem em ambulâncias por falta de urgências abertas – no domingo, dia 18 de setembro, os bombeiros da Moita fizeram o 14.º parto enquanto transportavam uma grávida para o hospital de Almada pois o do Barreiro tinha a urgência de obstetrícia fechada –, com este já rondarão as seis dezenas os nascimentos nestes veículos.

Também não se voltou a ouvir falar sobre a reorganização das urgências de obstetrícia na Península de Setúbal que já levou à apresentação de, pelo menos, dois planos mas nada aconteceu.

E, já agora, deixámos de ficar a par das horas de espera nos hospitais. Só para ficar registado: nesta quarta-feira (dia 1 de outubro de 2025) no Amadora-Sintra um doente com pulseira amarela (urgente) tinha de esperar mais de dez horas para ser visto por um médico. E sabem qual é o tempo de espera recomendado? 60 minutos.

Editor executivo do Diário de Notícias

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