Preguiça linguística ou um “elefante na sala”?

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Há em Portugal uma nova moda entre as crianças: não usam o verbo principal quando falam. Os exemplo são vários e há diversas opiniões e alertas sobre a situação que pode vir a ter consequências mais tarde.

“Professora, posso água? Posso bolachas?”. Estes são dois exemplos que a jornalista Cynthia Valente apresentou no Diário de Notícias no trabalho onde ouviu pais, professores e um psicólogo sobre este fenómeno que se está a tornar num “elefante na sala”, não só nas casas das famílias como nas escolas.

Chegados aqui, qual a explicação para tal e quais as consequências futuras para estes alunos do 1.º ciclo - o fenómeno está a ser mais detetado neste período escolar?

Parece que há várias justificações. Uma são os vídeos curtos a que as crianças e adolescentes assistem diariamente e que acabam por transmitir a ideia que qualquer conversa pode ser tida com pequenas frases, mais ou menos completas. Talvez seja a versão 2.0 do ditado “para bom entendedor meia palavra basta”.

Outra explicação passará pelo facto de as famílias falarem pouco entre si, ou seja, os pais devem ter uma maior interação com os filhos - e voltamos ao muito falado uso excessivo do telemóvel - e corrigi-los sempre que não completem as frases.

Uma terceira razão para esta “evolução” é o “mundo acelerado” em que vivemos como frisou ao DN, no trabalho já referido, Alberto Veronesi, professor do 1.º ciclo e diretor do Agrupamento de Escolas de Santa Maria dos Olivais. Disse este responsável que “a comunicação é geralmente rápida e eficiente e, assim sendo, as crianças sentem que as frases completas são desnecessárias para se fazerem entender”.

No entanto, agora que já se detetou esta “preguiça linguística” talvez seja o momento de os estudiosos da Educação e os responsáveis do setor verem como se pode/deve lidar com esta supressão verbal para que mais tarde os jovens adultos e adultos não sintam dificuldades numa sociedade cada vez mais comunicacional. E, já agora, para tentarmos, como País, melhorar nos rankings que vão sendo conhecidos e nos quais Portugal não está a ter boa figura.

Editor executivo do Diário de Notícias

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