Os portugueses estão preocupados com o mundo, sentem solidariedade com outros países, estão dispostos a apoiar a cooperação internacional e confiam em organizações como as Nações Unidas para resolver desafios que ultrapassam as fronteiras nacionais. “Os portugueses têm consciência da interdependência mundial e expressaram uma opinião bem favorável à solidariedade e de apreço às entidades que trabalham para a cooperação internacional”, sublinha ao DN, em entrevista publicada esta quarta-feira, Fernando Jorge Cardoso, diretor executivo do Clube de Lisboa, uma ONG que promove a reflexão sobre os desafios globais. Aliás, o estudo que sustenta estas conclusões, que vai ser apresentado publicamente na quinta-feira, em Lisboa, tem como título Desafios Globais para o Desenvolvimento, e sustenta-se numa sondagem que visa responder ao que pensam os cidadãos sobre os desafios globais e a solidariedade internacional. É muito interessante, e isto num momento em que os portugueses António Guterres e António Costa assumem destacados lugares de liderança internacional, que a ONU e a UE gerem confiança, mesmo que não sejam isentas de críticas. “Existe confiança nas instituições internacionais, particularmente nas Nações Unidas e na União Europeia. Naturalmente, estas organizações também são o resultado das vontades e interesses dos Estados que as compõem, e isso mesmo é reconhecido pelos cidadãos, ao afirmarem que a falta de capacidade para impor as decisões e acordos celebrados, a falta de voz e de poder de decisão dos países mais pobres e vulneráveis, e a paralisação dos seus órgãos devido aos interesses nacionais são fatores a ter em conta na (in)eficácia das Nações Unidas. Estes resultados não corroboram opiniões que consideram a ONU irrelevante, defendendo antes o seu reforço e/ou reformulação para que possa ter respostas mais assertivas aos desafios com que a humanidade se defronta”, afirma Patrícia Magalhães Ferreira, coordenadora editorial e de conteúdos do Clube de Lisboa, também na entrevista ao DN, publicada na véspera da sessão pública que vai ter lugar na sede do Instituto Camões. Acrescenta a também investigadora académica sobre as preocupações globais dos portugueses: “Em primeiro lugar, as guerras e conflitos violentos, que são uma preocupação transversal a toda a sondagem. É de salientar que a maioria dos portugueses considera que se tornou mais favorável à cooperação e solidariedade após a pandemia de covid-19 e, muito especialmente, após o início da guerra na Ucrânia. Em termos de ameaças internacionais à paz, expressam também preocupação com as crescentes violações de direitos humanos, e o aumento de cibercrime/ciberataques e campanhas de desinformação/fake news.”Neste contexto pós-pandemia e sobretudo pós-invasão da Ucrânia pela Rússia, também há um apoio a maior investimento em defesa e à participação das Forcas Armadas portuguesas em ações internacionais. “Há apoio bem maioritário, regra geral com a condição que o Estado não descure as suas obrigações sociais internas e de solidariedade internacional. Ou seja, apesar de não ser fácil o balanceamento entre gastos na defesa e segurança e gastos nas áreas sociais, essa foi a vontade expressa”, destaca Fernando Jorge Cardoso, que é professor catedrático de Relações Internacionais. “A sondagem revelou que os portugueses são bastante favoráveis à participação de militares portugueses em ações de paz e que têm dessa experiência uma opinião bem favorável”, disse ainda o académico, esclarecendo que a sua leitura dos dados feita ao DN, tal como a de Patrícia Magalhães Ferreira, é feita em nome próprio e não vincula o Clube de Lisboa.País que com os Descobrimentos dos séculos XV e XVI deu início à globalização, país que tem uma língua falada mundialmente por quase 30 vezes mais gente do que a sua população, país tradicionalmente de emigração e agora também de imigração, país de grande sucesso como destino turístico, faz todo o sentido que Portugal se sinta ligado ao mundo e que os portugueses percebam que o seu destino depende, e muito, do que se passa no resto do planeta. Um bom exemplo é a forte preocupação com as alterações climáticas que o estudo igualmente revela. Diretor adjunto do Diário de Notícias