Pela América do neto do José Grande e do cowboy Costa
"Quando estão em Portugal, ou quando são portugueses, entendem-se”, dizia Nuno Morais Sarmento em maio, na entrevista que deu ao DN a propósito dos 40 anos da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e referindo-se aos eleitos democratas e republicanos que a FLAD, a que preside, junta anualmente no seu Legislators’ Dialogue. O evento que promove o diálogo entre congressistas e senadores que partilham a origem portuguesa voltou este ano a realizar-se em Lisboa, e desta vez consegui juntar para uma entrevista conjunta Jim Costa e David Valadao.
Ambos congressistas federais - Jim Costa democrata que representa o 21.º distrito da Califórnia, David Valadao republicano eleito pelo 22.º distrito do mesmo estado -, estes descendentes de emigrantes da ilha Terceira, nos Açores, são o melhor exemplo dessa espécie de trégua que a FLAD oferece aos eleitos lusodescendentes. Velhos conhecidos desde os tempos em que a família de Valadao apoiava Costa no Senado estadual, como o próprio recordou, ambos garantem que apesar da imagem que pode passar nos media, não é assim tão raro ver republicanos e democratas a trabalhar em conjunto no Congresso dos EUA. “Por vezes, não votamos juntos, ou melhor, muitas vezes não votamos juntos, mas isso não significa que não estejamos a falar, a comunicar e a procurar soluções”, garante o republicano. “As relações bipartidárias são a chave para fazer as coisas acontecer”, concorda o democrata.
Mas no caso deles a açorianidade partilhada talvez dê uma ajudinha ao bom entendimento. Foi por causa dessas raízes que conheci tanto Costa como Valadao. Estávamos em janeiro de 2018 e o DN tinha com a FLAD um projeto chamado Pela América do Tio Silva. Enviada para Washington, em busca de filhos e netos de emigrantes portugueses de sucesso, não podia deixar de bater à porta de dois dos lusodescendentes eleitos para o Congresso. E se no gabinete de Valadao, num enorme edifício ao lado do Capitólio, foi o galhardete do Benfica que me chamou a atenção, para logo ter o neto do José Grande da Ribeirinha - de quem explicou ter herdado a altura - a lançar-me um “mas cuidado que também tenho eleitores do Sporting e do FC Porto”, no gabinete de Costa os meus olhos pousaram logo na fotografia de dois meninos e um adulto vestidos de cowboys junto a um bezerro. O congressista logo explicou tratar-se dele com o pai e uma prima “a ceifar em Tulare”.
Passados sete anos, o pequeno cowboy e o José Grande voltaram à baila numa conversa em que Costa e Valadao foram unânimes: a um ano de completar 250 anos de independência, a América ainda é a terra das oportunidades.
Editora-executiva do Diário de Notícias