Pausa (no sonho europeu)?

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Pandemia, invasão russa na Ucrânia, guerra sem quartel no Médio Oriente, e agora Trump. Alterações sísmicas globais. Estará o sonho europeu à beira de uma pausa indefinida?

O risco do reforço da visão autoritária da governação no mundo é mais do que real. Mesmo que os equilíbrios constitucionais da democracia americana funcionem e impeçam a capitulação das instituições (veremos), a confrontação comercial e a retórica agressiva para com a China - e mesmo a Europa - alimentarão personalidades como Xi, Orbán, Bolsonaro ou mesmo Putin.

A Europa está já a ser empurrada pelo novo equilíbrio político interno e pelas circunstâncias internacionais para uma política de fronteiras mais fechadas aos migrantes e mais defendidas das potências externas.

A competitividade e autonomia europeias são agora as prioridades absolutas. O sonho europeu de uma Europa de bem-estar e sustentável - sonho nascido do pesadelo da Segunda Guerra Mundial - vai sendo colocado em pausa, à medida que o mundo se torna mais perigoso e as consequências das alterações climáticas e do Inverno demográfico vão ficando mais visíveis.

Como não deixar que o pesadelo tome conta de nós por muito tempo? Recusando a pausa, resgatando o direito a sonhar. Ultrapassando as divisões costumeiras, tomando decisões corajosas, empurrando todos para a frente e não deixando ninguém para trás. É em tempos de crise que surgem as oportunidades para desafiar os limites do possível.

Recuperar o atraso tecnológico e de competitividade, reforçar a autonomia estratégica e de segurança europeia, manter a liderança global na sustentabilidade, na coesão, no desenvolvimento. Cada vez mais, será ao nível europeu que venceremos ou seremos derrotados. Nestas matérias, o todo (a União Europeia) é mesmo maior que a soma das partes (Estados-membros).

António Costa e Von der Leyen liderarão a Europa num período absolutamente decisivo e de desafios hercúleos. Não sei mesmo se serão apenas 12 os trabalhos a que estes líderes terão de se entregar. A visão e capacidade de liderança que conheço de ambos faz-me acreditar numa boa coincidência de líderes à altura da dimensão dos desafios. Nem sempre foi assim. É preciso acreditar e dar força às lideranças e à democracia.

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Pela minha parte, num momento em que, por razões profissionais, pauso esta colaboração de cerca de quatro anos com o Diário de Notícias, quero agradecer a oportunidade às sucessivas direções que me permitiram opinar neste espaço, e sobretudo aos leitores que me foram lendo e comentando, dando vida a esta opinião.

Quero, sobretudo, terminar desejando que os nossos filhos acordem novamente no sonho europeu, e parem de viver nesta angústia do regresso ao pesadelo do autoritarismo e da guerra. Quero, para os portugueses, para os europeus, o regresso do sonho da paz e do bem-estar, nesta Europa que amo e quis trazer até vós ao longo destes anos.

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