Os helicópteros Blackhawk no INEM

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A aquisição pelo estado português de quatro helicópteros UH-60 Blackhawk, para complementar e apoiar o INEM, provocou uma enorme polémica nos Órgãos de Comunicação Social, nomeadamente, TVs, jornais e redes sociais. Os portugueses são um povo com qualidades notáveis, mas também, com defeitos excecionais, individualmente “cada português tudo sabe e tudo comenta, mesmo nada sabendo sobre o assunto”.

Os últimos dias tem sido um corrupio de críticas infundadas, algumas mesmo ridículas, outras falsas ou semiverdades, a dirimir a aquisição destes helicópteros. É notório e evidente a impreparação e desconhecimento sobre esta matéria de muitos dos comentadores e analistas. A aquisição pode não ser a ideal, mas considerando as inúmeras vantagens e as várias condicionantes, nomeadamente as económicas, é uma boa solução.

Os Blackhawk são excelentes helicópteros, operados por dezenas de países nas missões de evacuação aeromédicas e têm todas as condições necessárias para cumprirem as missões. Têm grandes vantagens logísticas e de manutenção, em virtude da Força Aérea Portuguesa (FAP) já operar uma frota de helicópteros UH-60. Estes fatores tornam a operação mais fluida e a custos mais baixos.

Criticar a operação destes helicópteros por serem demasiadamente grandes e pesados, é, no mínimo ridículo. Andou a Força Aérea Portuguesa, durante décadas, a fazer evacuações, dia e noite, com os helicópteros SA-330 (PUMAS), basicamente da mesma categoria dos UH-60 Blackhawk. Nunca ninguém se queixou, bem pelo contrário. Criticar o helicóptero por ser desenvolvido com origens militares, não faz qualquer sentido, aliás o PUMA foi igualmente desenvolvido como helicóptero militar, sendo ainda hoje utilizado mundialmente como helicóptero civil.

Os helicópteros da FAP fizeram e fazem um trabalho notável em prole do bem-estar dos portugueses, no Continente, nos Açores e na Madeira, nomeadamente no âmbito das evacuações aeromédicas. A FAP começou a voar helicópteros no princípio dos anos 60 do século passado, quando os helicópteros civis em Portugal eram ainda uma miragem. Nos fins dos anos 70 e princípios dos anos 80, as evacuações aeromédicas em todo o território nacional, eram feitas pelos helicópteros da Força Aérea, muito antes da existência do INEM. A FAP mantinha um dispositivo de alerta com helicópteros no Montijo, em Tancos e um destacamento em Aveiro. A partir de 1976 nos Açores e de 1991 no arquipélago da Madeira.

As evacuações aeromédicas nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, continuam a ser feitas pela Força Aérea. A FAP, por manifestas dificuldades de prontidão operacional da empresa contratada pelo INEM, assegurou o serviço de transporte de emergência médica desde o dia 1 de julho até ao fim de outubro do presente ano. Num período de transição muito exigente, sem para isso estar preparada, a FAP mais uma vez, demonstrando uma grande capacidade operacional e de adaptação, assegurou com dedicação e profissionalismo a continuidade do Serviço de Helicópteros de Emergência Médica do INEM.

Com a aquisição decidida é necessário definir qual o modelo de operação para o INEM, um sistema híbrido, público/privado, ou entregar à Força Aérea? É necessário e fundamental definir a cadeia de comando e controlo, isto é, “quem manda em quem”.

Tenente-general Pilav (REF). Membro do OS&D da SEDES

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