Orçamento de Estado. O dia mais longo...

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Finalmente, hoje reúne-se o governo e o Partido Socialista no sentido de ambos encontrarem um caminho que conduza à aprovação do Orçamento de Estado para 2025.

O Orçamento é de um país, não é de qualquer partido. É um instrumento vital para a continuidade das escolhas que os portugueses fizeram nas últimas eleições.

Com o panorama internacional quase à beira de uma terceira guerra mundial, um conflito na Europa sem fim à vista, e uma situação catastrófica no Médio Oriente, este não é, propriamente, o cenário internacional indicado para que Portugal abra uma crise política. À situação externa acresce os objetivos internos que passam pela execução do PRR e pelos inúmeros desafios que o país tem pela frente, no sentido de solucionar os constrangimentos estruturais que atormentam a sociedade portuguesa.
O que temos assistido na antecâmara da reunião de hoje não é próprio de uma democracia estabilizada como é a nossa. O ror de sistemáticos recados através da comunicação social, sem sentido, e desprovidos de qualquer resultado prático, trocado entre governo e oposição, deixa apreensivo qualquer cidadão que se preocupe, minimamente, com o percurso da política em Portugal.

Uma negociação saudável, como se impõe, para que o orçamento venha a ser uma realidade, requer um outro ambiente e uma outra narrativa distante do que temos vindo a assistir nos últimos dias. É manifesto que não existe da parte do Partido Socialista a disponibilidade necessária para que se concretize esse desiderato da criação de um clima propício à construção e aprovação de uma lei que é vital para o país. E o governo não terá, também ele, seguido os procedimentos mais eficazes para a criação desse ambiente necessário a que se chegue a bom termo no objetivo da aprovação do exercício orçamental de 2025.

Terá, então, hoje, de haver uma forte vontade política do governo e do PS para que saia fumo branco da reunião.

É vital que o Executivo tenha abertura suficiente para modelar as suas propostas ao encontro daquilo que os socialistas consideram ser o menor denominador comum do que é a matéria do seu ideário ideológico. Ajustar as propostas no seu ponto de equilíbrio. Talvez o IRS Jovem não deva ir tão longe, ao beneficiar os jovens com maior poder financeiro. E, seguramente, o IRC terá de ser moldado no sentido de incorporar mais, acentuadamente, as empresas financeiramente mais frágeis.

Hoje é o momento em que governo e PS têm de pensar mais no país e menos nos respetivos partidos e que o Executivo tem de abandonar alguma rigidez das suas propostas em nome do interesse nacional.

Abrir uma crise política e partir para um novo ato eleitoral é uma loucura e uma irresponsabilidade a que os portugueses não deixarão de dar a devida resposta aos que, mais tarde, vierem a ser responsabilizados por isso. 
É pois o tempo de pôr fim ao triste espetáculo que governo e PS deram, nos últimos dias, para a marcação de uma simples reunião de trabalho entre gente adulta.

Há que ter espírito construtivo, abandonar chavões e ideias feitas. O PS não tem de fazer um tão acentuado finca pé no ideário das suas propostas orçamentais. Novas oportunidades surgirão aos socialistas para exercerem, cabalmente, a pureza ideológica daquilo que querem para o país quando, mais tarde, vierem a vencer as eleições. E o governo não precisa de manter uma rigidez frígida na legislação orçamental. Talvez, mais tarde, a possa vir a modelar num outro registo legislativo que não o orçamental.

É então tempo, hoje, de encontrar um caminho de compromisso que tranquilize o país e retire tensão dos portugueses tão assoberbados com o seu difícil quotidiano.

Partir para eleições neste momento seria um momento de descrédito na capacidade de diálogo e entendimento que deve existir entre governo e PS para solucionarem os problemas que Portugal enfrenta. Não ter essa capacidade de diálogo seria um ato, politicamente, criminoso e irresponsável. 

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