Retomo o tema das doenças transmitidas por mosquitos por episódios que resumem a sucessão de acontecimentos que explicaram o início e o fim da epidemia de dengue, que ocorreu no Funchal, em 2012-2013. Pretendo, assim, suscitar a reflexão sobre riscos do eventual aparecimento de uma epidemia semelhante no Continente.Episódio 1: Em 2005, os especialistas do Instituto de Higiene e Medicina Tropical identificaram, pela primeira vez, a instalação de mosquitos da espécie Aedes aegypti no Funchal (Região Autónoma da Madeira). A esse propósito, realço que o clima quente e húmido da capital madeirense (classificado como subtropical), caracterizado pelas temperaturas médias de 26º C no verão e de 20º C no inverno, constituiu um fator determinante, que facilitou a criação do ecossistema ideal (muito hospitaleiro) à invasão dos mosquitos.Episódio 2: Passados sete anos (2012), as colónias de mosquitos cresceram, naturalmente, uma vez que encontraram condições perfeitas à reprodução. São mosquitos com atividade diurna, que começa cerca de duas horas depois do nascer do sol e termina antes do crepúsculo. Ora, é durante este período de tempo que as fêmeas picam as pessoas para fazerem as respetivas refeições sanguíneas.Episódio 3: Um certo dia, chegou ao aeroporto do Funchal um viajante, oriundo de um país da América do Sul, que foi picado depois de ter aterrado. Acontece que estava infetado com dengue, na fase em que o vírus circulava no próprio sangue (virémia), se bem que quase assintomático. Poucos dias depois, esse mesmo mosquito, voltou a fazer nova refeição sanguínea ...Episódio 4: Entretanto, o Senhor X, pacato madeirense que, tranquilamente, estava em sua casa a almoçar, foi picado por esse mosquito, que, nesse momento, transmitiu a infeção.Episódio 5: O Senhor X, até aí saudável, adoeceu, subitamente, uma semana depois da tal picada com febre, cefaleias e dores generalizadas nos músculos e articulações. Foi depressa à consulta do seu médico que, depois dos testes laboratoriais, confirmou o diagnóstico de dengue, tendo logo notificada a doença ao delegado de saúde.Episódio 6: As respostas de prevenção e controlo foram rápidas e eficazes. No total foram registados 2168 casos de dengue (mas, zero óbitos), dos quais 11 no Continente, em pessoas regressadas da Madeira e 70 casos de doença em turistas de 13 países, que tinham estado no Funchal.Episódio 7: Os efeitos negativos no Turismo representaram uma preocupação para a economia da Região.Episódio 8: As autoridades regionais declararam a eliminação da epidemia no dia 12 de março de 2013.(Continua)Ex-diretor-geral da Saúdefranciscogeorge@icloud.com