Tão certo como considerar os cães os melhores amigos das pessoas, é julgar os mosquitos como os maiores inimigos, atendendo às doenças e mortes associadas aos efeitos das picadas (quase sempre inevitáveis).É verdade que os riscos para a saúde humana (mas, também para a saúde animal) devidos à transmissão de micróbios patogénicos não podem ser ignorados pelos graves problemas de saúde pública que representam, incluindo o impacte negativo que provocam na dimensão económica.Os mosquitos têm características e hábitos que devemos conhecer não só na mera perspetiva em elevar a própria literacia, mas, igualmente, para permitir a adoção de medidas preventivas das infeções que transmitem: virais, bacterianas ou parasitárias.É o tema que passarei a desenvolver.Começo por admitir que a atual aceleração das alterações climáticas, em consequência da emissão de gases com efeito de estufa, é geradora de condições ambientais que propiciam os sítios adequados à reprodução de mosquitos. Por outras palavras, o aquecimento global, ao transformar regiões de clima temperado em clima tropical (mais quente e húmido), origina ecossistemas favoráveis à invasão e multiplicação de mosquitos.Reconheço que para um especialista em saúde pública a vida dos mosquitos constitui um fascínio. A este propósito, realço que os mais importantes como vetores de doenças são os culicíneos e os anofelinos. Os primeiros, agrupam espécies envolvidas na transmissão da dengue e da febre amarela; os segundos, transmitem o paludismo, por exemplo.Curiosamente, apenas as fêmeas dos mosquitos precisam de alimentação rica, pela exigência do respetivo aparelho reprodutor relacionada com a postura de ovos, motivo pelo qual picam para poderem sugar sangue através da pele. Já os machos alimentam-se de sucos vegetais (refeições vegetarianas). Ora, no seguimento da cópula, as fêmeas põem os ovos em meio aquático, mesmo em pequenos recipientes com água das chuvas como latas de conserva, pratos de vasos de flores ou pneus ao ar livre. Aí tem lugar o processo de transformação (metamorfose): ovos, larvas, ninfas e, por fim, mosquitos adultos voadores. A duração do ciclo na fase imatura não é longa, variando em função da temperatura ambiente (pode ser de uma semana). Então, o mosquito sai da água e terá um tempo de vida variável de algumas semanas. Mas, se o sangue aspirado durante a refeição estiver infetado, no repasto seguinte (para saciar a fome ou a sede), o mesmo agente infecioso será transmitido a quem estiver a ser picado nesse momento. Assim acontecem as doenças de transmissão vetorial.(Continua) Ex-diretor-geral da Saúdefranciscogeorge@icloud.com