Como antes sublinhei, as vacinas evitam infeções. Comprovadamente. Se é verdade que o Programa Nacional de Vacinação começou por ser aplicado com o objetivo de reduzir a morbilidade e mortalidade em crianças, atualmente as suas metas são mais vastas e ambiciosas. As vacinas previnem, para além de doenças infetocontagiosas, quer em crianças quer em pessoas adultas, certos cancros associados a infeções virais. Em Portugal, o calendário oficial recomendado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) contempla vacinas contra as seguintes infeções: hepatite B, tuberculose, difteria, tétano, tosse convulsa, poliomielite, sarampo, rubéola, papeira, vírus do papiloma humano, meningites (provocadas por dois agentes distintos), pneumonia (pneumocócica), vírus sincicial respiratório, gripe e COVID-19.Estão, também, disponíveis, gratuitamente, vacinas para a prevenção e controlo de doenças (incluindo surtos) causadas pelos vírus da hepatite A e mpox.O êxito do Programa Nacional de Vacinação é medido pelas elevadas taxas de cobertura: 99% de crianças vacinadas até aos 12 meses de idade e 96% contra o sarampo até aos seis anos. Em resultado deste indiscutível sucesso, ganhámos, na dimensão social, a eliminação de seis doenças infeciosas, além de outras sete já consideradas como controladas.Por outro lado, no plano científico, está demonstrado que inflamações causadas por infeções de natureza viral podem originar o desenvolvimento de células cancerosas em tecidos de determinados órgãos, nomeadamente provocadas pelo vírus da hepatite B e pelo vírus do papiloma humano. Assim sendo, as vacinas contra estas duas infeções são preventivas, respetivamente, em relação ao cancro do fígado (hepatoma) e ao cancro do colo do útero (bem como do cancro oral e de órgãos genitais, em ambos os sexos).Em Portugal, é bom reconhecer que quase 100% das crianças recém-nascidas estão protegidas da infeção da hepatite B e que mais de 90% dos adolescentes já estão imunizados para a infeção do vírus do papiloma humano. Uma conquista na luta contra o cancro, visto que, na próxima geração, o risco de adoecer com estes cancros será praticamente inexistente. Um orgulho.Este fascinante mundo das vacinas está claramente descrito na recente publicação que a Direção-Geral da Saúde promoveu e que é facilmente acessível no respetivo SITE ou através do motor de busca em Livro Azul de Vacinas: Programa Nacional de Vacinação e outras estratégias de imunização. É um guia, estruturado em capítulos, em constante atualização, indispensável a quem necessita de informações sobre doenças evitáveis pela vacinação.(continua)Ex-diretor-geral da Saúde; franciscogeorge@icloud.com