A trágica pequena Europa

Junho é o mês em que os europeus costumam fazer algo em que são melhores do que quaisquer outros povos: suicídio coletivo. Em 22 de junho de 1941, Hitler, depois de ter dominado a Europa Ocidental, resolveu invadir a URSS, transformando uma guerra europeia em mundial, e lançando a Europa num abismo ainda maior. Em 24 de junho de 1812, Napoleão preferiu invadir a Rússia, em vez de estabilizar as suas conquistas e perdeu tudo. Em 28 de junho de 1914, um banalíssimo assassínio de um príncipe em Sarajevo, lançou a Europa, então rainha do mundo, num holocausto que ceifaria uma geração inteira. Ontem, 23 de junho de 2016, o voto popular britânico veio transformar a longa agonia europeia, numa acelerada derrocada que só um milagre poderia impedir. A diferença fundamental no suicídio coletivo em curso, reside no profundamente diferente perfil psicológico das lideranças. No passado, foram líderes ambiciosos, violentos, megalómanos até à loucura, que precipitaram a Europa nos abismos de sofrimento. Hoje, a Europa está a sucumbir à mediocridade, frivolidade, ignorância de gente pequenina, como David Cameron que não hesitou em jogar póquer com o destino de 500 milhões de cidadãos para segurar a sua minúscula carreira de chefe de partido. Contudo, o referendo britânico não é uma causa, mas o efeito de um projeto europeu que se tornou politicamente irresponsável e socialmente hostil. Na teoria, este referendo poderia ser uma oportunidade para refundar o projeto europeu. Mas, na prática, será credível que quem nos conduziu até aqui seja capaz de seguir o caminho que nos pode salvar? Importa apertar o cinto e cerrar os dentes. Da UE o caminho de saída é o artigo 50. Mas da zona euro só se sairá pela janela.

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