O fraco jogo na mão de PCP e BE

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O aviso de António Costa - sem OE 2019 aprovado, demite-se -, na primeira parte da entrevista ao DN, acontece porque este maio está a ser o mais quente dos meses em matéria de contestação social desde o nascimento da geringonça e talvez apenas porque sim, porque pode.

Servirá para acalmar a rua? Nem por isso. A resposta do PCP sugere que quer manter o lume quente até outubro e novembro, quando se cozinhar em definitivo o OE 2019 e, mais importante, boa parte da agitação está relacionada com estruturas sindicais fora da esfera dos comunistas, sobretudo na área da saúde. Com uma capacidade de intervenção social muito menor, o Bloco tem uma reação que acaba por revelar o jogo fraco na mão de Catarina Martins. A líder do Bloco diz que quer ver o OE 2019 a ir "mais além" do acordado com o PS em 2015. É este o ponto. Os acordos estão a ser cumpridos e falta mesmo muito pouco para que se esgotem. O líder socialista afirma, por diversas vezes ao longo da entrevista, que nenhum dos parceiros pode apontar o que quer que seja ao PS nesse tema.

Os acordos estão quase esgotados, a economia está bem comportada, logo, que argumentos sobram a Bloco, PCP e Os Verdes para arriscarem uma crise política? No fundo, António Costa estica a corda porque... pode. Sabe que, com maior ou menor dramatização, vai ter todos os votos de que precisa para aprovar o Orçamento. A alternativa, para PCP e Bloco, é avançarem para uma crise que entregaria ao PS uma maioria absoluta que, a eles, só retiraria poder. Mas tudo isto não passa de jogo. Bem mais interessante é verificar que, tal como estava já sinalizado na moção que vai levar ao Congresso da Batalha - nunca houve verdadeiro tabu sobre acordos pós-eleitorais -, António Costa assume que quer ganhar eleições com uma agenda de esquerda. Entre a afirmação de alguma autonomia programática e a tentação de capitalizar os sucessos do governo que apoiam, Bloco e PCP vão ter uma campanha complicada de gerir se quiserem evitar o abraço do urso.

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