54 mil euros? Pfff, isso são seis meses de salário...
Cândido Ferreira, médico, foi candidato às recentes presidenciais. Candidatos houve 10. Ficou em 10º. Tem sido assim a vida política dele. Aquele que concorreu ao mais alto cargo político, e foi arrasado, já tinha sido candidato à câmara de Leiria, e não ganhou. Candidato a deputado, e não foi eleito. Quer dizer, quando se apresenta ao povo, é ignorado. Hoje, soube-se exatamente porquê.
Um caso de falta de vocação política? Nem por isso, quando a política é de panelinha, este Cândido tem vivido o melhor dos mundos. Foi mandatário-jovem de Eanes. Foi presidente da federação socialista de Leiria. Foi diretor de campanha local de Sampaio... Estão a ver? Em círculo fechado, este Cândido parece ter sempre quem se lembra dele. E ganha sempre um posto que, pelo menos lá na terra, é muito cobiçado.
Então, o que emperra quando Cândido Ferreira passa do seu círculo de amigalhaços para o escrutínio das pessoas normais? Isso vocês viram quando ele ousou apresentar-se ao povo. Definição de povo: todos os que nunca se sentaram na mesa de café do dr. Cândido. Para esses, Cândido Ferreira espalha-se no falar. E até no não falar: tendo a oportunidade de participar num debate televisivo nacional, renunciou! Ou, se calhar, fez bem: quando foi ao debate seguinte todos viram que ele foi previdente por não ter ido ao anterior. Enfim, o resultado de domingo passado parecia ter mostrado toda a irrelevância da sua candidatura presidencial.
Sendo assim, por que desenterrá-lo? A edição de hoje do DN explica. Sobre os custos da sua candidatura, 54 mil euros, para os quais não tem, naturalmente, direito a nenhum apoio do Estado, o médico Cândido Ferreira desdenhou a importância: "Seis meses de salários chegam para cobrir esse valor." 54 mil por mês, dá nove mil euros mensais de salário. O que está longe, muito longe, de ser o salário da esmagadora maioria dos médicos portugueses.
Evidentemente, a informação boquirrota do dr. Cândido Ferreira deu brado: "Médicos sanguessugas, classe de parasitas!", saltaram os invejosos. E, claro, na sua empáfia de provinciano, que até faz vinho no Alentejo, o ex-candidato é capaz de andar com os seus recibos de vencimento à lapela. Não sabendo, nem querendo saber, que levou ao engano - pela generalização abusiva que permitiu - sobre os salários dos seus colegas.