Quando se compram informações sobre processos em investigação (Operação e-Toupeira) ou se compram sentenças (Operação Lex) é a justiça que fica sequestrada e, com ela refém, é o Estado de direito que é posto em causa. Não estamos a discutir futebol, mesmo que nos dois casos as figuras centrais estejam ligadas ao futebol, e ao Benfica em particular. A discussão sobre estes dois processos exige a ausência total de paixão clubística..Para discutir futebol e alegadas ilegalidades que podem ter posto em causa a verdade desportiva há o caso dos e-mails que está a ser investigado e já tem arguidos e o caso do Estoril-Porto que teve uma denúncia anónima e está ainda em fase de inquérito. Acontece que foi por causa dos e-mails que, alegadamente, dirigentes do Benfica foram a correr corromper a justiça. A discussão futebolística não é para este texto, o assunto é demasiado grave para se perder na irracionalidade das clubites de que eu próprio sou vítima consciente quando o assunto é apenas pontapé na bola..Há um alegado padrão de comportamento nos arguidos das duas operações que revela muita coisa sobre aquelas pessoas que têm interesses comuns, mas revela muito mais sobre a fragilidade da nossa justiça. Inúmeras vezes revelei a minha indignação sobre a violação do segredo de justiça em processos mediáticos que visam apenas condenar pessoas na praça pública. Não posso, por isso, deixar de me indignar com o facto de, na Operação e-Toupeira, haver uma acusação de violação de segredo de justiça, entre outras mais graves como a de corrupção, e ao mesmo tempo haver violação de segredo de justiça nas notícias sobre o caso. É preciso, no entanto, perceber que o grau de gravidade da violação em causa é muito diferente quando o que está em segredo é matéria probatória já recolhida e que é noticiada indevidamente ou informações no decurso da investigação que permitem aos criminosos boicotar a investigação e dessa maneira procurarem furtar-se à justiça..Nenhum adepto de futebol pode olhar para estes casos e debatê-los como quem debate um penálti que ficou por marcar. Corromper a justiça é o pior que podia acontecer-nos. Se aceitássemos a normalidade destes comportamentos, mesmo aos do nosso clube, já não estaríamos a viver em democracia.