O pesadelo que será o Natal

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Os próximos quatro meses não serão fáceis em termos de comunicação social política. Não me refiro ao governo, mas sim à batalha das presidenciais. Entre 21 (Ou 22? Ou mais?) candidatados ou pré-candidatos presidenciais, apenas dois irão ocupar a maioria do espectro comunicacional: Gouveia e Melo e André Ventura, não necessariamente por essa ordem. Ou seja, a comunicação social não aprendeu nada. De mais de duas dezenas de candidatos, escolhem dois para luta de lama. A política do espectáculo, “golpes publicitários” e circo político chegaram e debate sério não terá hipótese de existência. Já tivemos um vislumbre com o anúncio da candidatura de Ventura: confunde os poderes de primeiro-ministro com os de um presidente, eleva o populismo ao seu máximo e, para além da sua senda messiânica – afinal, “Deus Soube que ele iria ser candidato antes dos portugueses; está aqui para servir Portugal; com sacrifício pessoal” – já mostrou que vai colocar o Ministério dos Negócios Estrangeiros a trabalhar como nunca. A quantidade de problemas diplomáticos que se avizinham caso ele seja eleito colocariam Portugal em guerra até com países da União Europeia. Gouveia e Melo, que começa a ser assessorado de melhor forma, ainda não domina todos os dossiers e comete alguns erros, possíveis – e passíveis – de serem limados até às eleições. Ventura, rolo compressor, pode não lhe dar tempo para isso. E os outros? Os outros não são passíveis de fomentar escândalo suficiente para vender notícias, contribuírem para as audiências e para o circo mediático em que a política se tornou. Lamento, mas a comunicação social está a fazer com que as presidenciais sejam disputadas entre os candidatos mencionados acima, e os outros já estão ultrapassados para segundo plano. Marques Mendes é cada vez mais conotado com o estereótipo “Marcelo 2.”: um modelo esgotado e a que já ninguém quer vo(l)tar. António José Seguro tarda a ter apoio do seu próprio partido, que está mais perdido do que cão no meio de um tiroteio, e que vai ser trucidado, provavelmente, nas autárquicas. Acabará por perceber que, a única hipótese que tem de uma melhor votação num bom candidato, será mesmo apostar “pelo seguro”. No entanto, não só irá tarde, como pode até ser prejudicial ao próprio candidato, qual “presente envenenado”. Seja como for, não terá o apoio mediático suficiente que, caso Ventura não estivesse na equação, teria. Quanto aos outros, não passam disso, são os outros. Não têm importância nenhuma. Aliás, nem há espaço na comunicação social e na atenção dos portugueses votantes para mais que dois candidatos quando as eleições são desta natureza. Infelizmente, ainda não começou a campanha eleitoral, e já estão em campanha eleitoral. E a saturação, agora, já é grande, imaginem o pesadelo que não será o Natal.

Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS)

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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