O discurso do Prof. Álvaro Santos Pereira, novo Governador do Banco de Portugal, foi pensado, no conteúdo e na forma, ao detalhe. A apresentação foi feita na antiga Igreja de São Julião, atual Museu do Dinheiro – a primeira vez, pelo menos que me lembre, que a cerimónia não se realizou na “casa” do ministro das Finanças. O ruído mediático que rodeou a saída do Prof. Mário Centeno acentuou um clima de nervosa expetativa. O governador quis passar uma mensagem de independência e houve jornalistas que foram ao ponto de contar os segundos de um aperto de mão que fica para a história destas cerimónias. Um cumprimento de sete segundos. Tenho a esperança sincera que se possam entender. Em nome do país e do sistema financeiro, da credibilidade das instituições e da confiança, mas também em nome de um e de outro. Ambos professores universitários (estrangeirados) com prestígio internacional e com ideias próximas de bem. Ora, não temos assim tantos portugueses com um percurso académico e político acima da espuma dos dias. A minha esperança num entendimento tem que ver com o futuro, seja ele o que for e onde for. Pela minha parte, não posso deixar de fazer votos para que o compromisso e relação da instituição a que presido, e do movimento cooperativo, seja tão bom com o novo governador como foi com o anterior. Quanto ao discurso, foram expressas um conjunto de preocupações que vão ao encontro do que tenho escrito nesta nossa conversa semanal e no que tentamos implementar em Torres Vedras – alguns desses temas serão discutidos brevemente pelo nosso Conselho Estratégico formado, com orgulho nosso, por ex-ministros das Finanças, da Economia, da Segurança Social e do Ensino Superior, além de várias figuras de referência da sociedade civil.Estamos sintonizados com as prioridades do governador para o futuro do sistema financeiro e do país que desejamos construir – o investimento na promoção da literacia financeira, o combate à fraude e ao branqueamento de capitais e a simplificação regulatória. Questões diversas a que espero poder regressar nas próximas semanas. Por um lado, a necessidade de uma literacia que nos proteja de uma certa amoralidade que tem contaminado este nosso tempo. Por outro, a procura de novos modelos de combate à fraude que dependerá fortemente da revolução tecnológica em curso. E, por fim, a especificidade da banca cooperativa que deve ser contemplada tendo em conta o respeito do princípio da proporcionalidade nesta ambicionada simplificação regulatória. A expetativa é enorme. De saber mais em relação às políticas-base do BdP, de colaborar com os vários poderes no interesse de Portugal, de contribuir com a nossa experiência, com as nossas ideias e com a nossa singularidade. Somos uma banca de pessoas capitalizada e não uma banca exclusivamente de capitais. De acordo com os três pilares, Portugal merece ter uma banca competitiva comercial, sólida de poupança e integradora e social cooperativa. Para que não haja dúvidas, defendemos uma banca cooperativa próxima da Alemanha, Áustria e Norte de Itália, próxima das populações e interessada, mais do que ninguém, no futuro do país. Boa-sorte, caro Professor Álvaro Santos Pereira na defesa daqueles que têm mais futuro do que passado, de forma a erradicar assimetrias sociais e económicas. A Banca pode contribuir decisivamente para este desafio. Presidente da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedrasmanuel.guerreiro@ccamtv.pt