Há um ditado segundo o qual "se um tigre entrar por uma janela aberta convém ter outra janela aberta para poder sair". O que foi a terrível guerra de 1939-1945 deixou sobretudo a memória da política alemã de Hitler, o que parece ser lembrado pela intervenção da Rússia com a invasão da Ucrânia em que começam a aparecer sugestões para a janela aberta em relação à iniciativa da Rússia. As minhas antigas observações, que parecem esperar a janela aberta, por sua vez fazem lembrar, segundo a meditação do historiador François Bédarida (1989), que enumero nas minhas notas que recordo hoje, na galeria dos responsáveis dessa saga os nomes de Goering, Himmler e Heydirch..Todavia, a grandeza dos líderes europeus, em que se destacaram, depois da guerra, os fundadores da que é hoje a União Europeia, não impediu que meio século de guerra fria, que se seguiu à derrota da Alemanha, se baseasse no medo, como Spaack declarou em discurso na Assembleia Geral da ONU, dirigindo-se à delegação soviética. E foi tendo o medo como primeiro suporte, que se imaginou a defesa do futuro em paz. A falha de autenticidade havia de comprometer a realização de todas as promessas, abusando da submissão das palavras e da criatividade na utilização dos avanços técnicos dos meios de comunicação. O dito de Confúcio, recordado por Éric Hobsbawn, no seu livro Testamento, Um Tiempo de Ruturas (Planeta, Barcelona, 2013), foi esquecido: "se a linguagem não é correta, então o que se diz não é o que se quer dizer; se o que se diz, não é o que se quer dizer, então o que se quer fazer fica por fazer; se isto fica por fazer, a arte e a moral deterioram-se; se a justiça se extravia, as pessoas ficarão perdidas na confusão. Por tudo isto, não deve haver arbitrariedade no que se diz. É uma questão de suma importância". O projeto que, finalmente, tendo em vista a paz, criou as Nações Unidas orientadas por valores como os Direitos do Homem sem distinção de etnias ou convicções religiosas e o respeito pela Terra casa comum dos homens, foi deste modo que além da Assembleia Geral orientada pelo princípio da cooperação, a identidade de etnias, culturas, e religiões, também foi acompanhada por um importante organismo que é o Conselho de Segurança. Esta é a minha antiga observação..A liderança de Putin, desaparecido o regime comunista da Rússia, tornou público o seu respeito pelo princípio histórico do seu país, no sentido de que a terceira Roma não cairá. Em tempos pareceu-me que procurava os valores do antigo regime Imperial, que esse era o seu objetivo mais evidente, e os factos demonstraram que esse regime, que lembraria a antiga Monarquia, implicou com o problema do valor das palavras que procuraram cobrir a decisão efetiva que o projeto Imperial implicava o recurso à guerra, incluindo a invasão de um Estado livre e abalando a importância de um Estado Novo que a ONU representava pelas memórias brutais do Estado Velho que levou à guerra de 1939-1945. O percurso europeu e ocidental volta a valorizar a autenticidade, não pode deixar de meditar no já referido livro de Éric Hobsbawn. Essa autenticidade implica que o Tribunal Penal Internacional substitua o acórdão em que decidiu não investigar crimes de responsabilidade estadual, porque nenhum Estado dava cooperação, iniciativa que poderá fazer esquecer a exclamação de Trump de que se tratava "de uma grande vitória". A situação do tempo que vivemos é no sentido de salvaguardar os princípios fundamentais que orientaram a ONU, porque é urgente que o sonhado mundo novo em que lembram os nomes de Churchill e Roosevelt. Não pode deixar de se considerar as intervenções do atual Secretário-Geral que anuncia a ameaça do "Pântano"..Os poderes emergentes, em que se destaca a China, estão a utilizar esta nova situação que, à medida que os faz crescer na escala mundial, também contribui para afetar os ocidentais em decadência. Que conflitos armados possam eclodir em luta por recursos raros e não renováveis, assim como a degradação do ambiente pode incitar ao acréscimo do ritmo de deslocações das populações, do que historicamente há exemplos sérios, é uma ameaça que tanto poderá ser externa como acumular-se a movimentos internos causados pela crise brutal que se abateu sobre a economia global, tendo em conta que a fome não é uma obrigação constitucional ou legal em parte alguma. A demolição dos Estados plurais pode contagiar e destruir o projeto regional da União Europeia, afetada pela crise mundial económica e financeira, sendo que Portugal, um país que sempre necessitou de uma ajuda externa, desde a Santa Sé, à aliança inglesa, e finalmente à União Europeia, seria atingido. O invocado "Pântano" pelo Secretário-Geral faz lembrar o fim da Sociedade das nações.