O debate público em Portugal está numa das suas piores fases, porque simplesmente ninguém quer ouvir o “outro lado”. O recente episódio com o ministro da Educação, Fernando Alexandre, é o exemplo acabado disso mesmo. Uma intervenção pública baseada em princípios sociais democratas clássicos transformou-se, de imediato, num linchamento preventivo pela simples razão de que, mal o ministro abriu a boca, a sentença já estava assinada por quem, quase antes de ouvir a primeira frase, já tinha decidido que ele era (tinha de ser) o vilão da história.O preconceito foi tão ruidoso quanto, diga-se, previsível. Para uma esquerda que se acha proprietária exclusiva da compaixão e da ética, Fernando Alexandre comete o crime imperdoável de ser “de direita” pelo que, na cabeça deste tribunal de opinião, é sinónimo automático de insensibilidade social. Assim, o que diria só poderia ser um “ataque aos mais desfavorecidos”.Logo surgiu, das personagens habituais das redes sociais, mas da maioria de jornalistas e comentadores, o ventriloquismo político: asfixiam-se as palavras e intenções reais do governante para as substituir por uma narrativa conveniente que alimente a tão desejada superioridade moral. A fraude intelectual, essa, é também a usual. Aqueles que mais gritam em nome da inclusão são, quase sempre, os primeiros a excluir qualquer argumento que não caiba no seu estreito figurino ideológico.Até que, pasme-se, surge Daniel Oliveira, com quem me encontro, em 99,99% das vezes, nos antípodas da visão política e económica. No tumulto da indignação, a sua voz resgata a dignidade do debate. Ao contrário de muitos dos seus camaradas de armas e de uma falange de jornalistas que parecem ter trocado o rigor pelo ativismo de sofá, Oliveira demonstrou que, pelo menos uma vez na vida, soube ouvir. Teve o desprendimento -- que devia ser norma, mas hoje em dia é exceção -- de separar a discordância política da análise factual.A lição de Daniel Oliveira devia ter sido humilhante para muitos, soubessem eles ser humildes quando os factos o exigem. Isto a começar logo por Eurico Brilhante Dias, o líder parlamentar do PS que pediu a demissão do ministro caso este não se retratasse, mas também passando pelos pivôs de TV do próprio canal onde o antigo dirigente do bloco comenta que, mais de 24 horas depois do caso estar mais do que esclarecido, continuavam a teimar que Fernando Alexandre tinha na realidade dito o que não disse. A democracia exige clareza, não caricaturas. Fernando Alexandre pode e deve ser escrutinado, mas que o façam por aquilo que ele de facto diz e faz, não pelo que as mentes de antolhos decidem projetar nele. Afinal, quem realmente tem preconceitos não é o ministro que até propõe soluções -- dizendo realisticamente que, se calhar, nem as vai conseguir concretizar --, mas sim quem se recusa a ouvi-las porque o emissor não segue a sua cartilha.Oliveira expôs a nudez de quem já não quer informar, mas apenas confirmar os seus próprios dogmas. Deu um “banho de ética” a jornalistas que se esqueceram que a sua função não é fazer juízos de valor antes de garantir o rigor da citação. Deveria ser uma lição amarga para uma profissão que, ao perder a capacidade de ouvir com seriedade, perde a sua razão de ser. Quem me dera que estes profissionais, meus companheiros de profissão, fossem capazes de o perceber. Por uma vez, ouvissem-no com um pingo de inteligência..Polémica sobre residências universitárias: PS exige retratação de Fernando Alexandre. Ministro diz ter sido descontextualizado