O mesmo enredo, 100 anos depois

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Estamos a viver tempos estranhos. Já todos o sabemos. Mas, talvez como nunca nos últimos 50 anos, os dias são de pouca esperança num futuro melhor. Pensámos, quase todos, que uma vez saídos da pandemia os dias seguinte seriam melhores, mas não. O que temos são duas guerras regionais - Ucrânia e Médio Oriente - que a todo o momento podem escalar para um conflito global. No meio de tudo, Trump venceu as Presidenciais nos EUA, o que nos pode trazer um futuro ainda mais distópico do que alguma vez imaginámos. E o que se passa em alguns países europeus com o crescimento da direita populista, com laivos de racismo e nacionalismo, não vislumbra nada de positivo. E isso reflete-se também por cá.

As recentes manifestações contra imigrantes e a tentativa - desonesta sublinhe-se - de relacionar o aumento da criminalidade com pessoas que vêm de outros países têm pouco a ver com o Portugal de gente simpática e gentil, como muitas vezes nos autodenominamos. Ao mesmo tempo a esquerda moderada (quer na Europa, quer nos Estados Unidos) está embrulhada num novelo do qual não está a saber desembaraçar-se, e cai todos os dias na esparrela de seguir uma agenda que só beneficia os extremos.

Para contrariar este preocupante melting pot, acerca do qual não mencionei muitos outros problemas, gostaria de escrever linhas de esperança num futuro melhor, mas é difícil. Prefiro deixar aqui uma forma de olharmos para o passado e percebemos, através do entretenimento, que estamos a repetir os mesmíssimos erros de há um século. Recentemente vi pela primeira vez os mais de 50 episódios de uma das melhores séries de TV, na minha opinião: Downton Abbey.

Para os mais distraídos, a série passa-se na Inglaterra nos Anos 10 e 20 do século passado. E no meio do entretenimento, nas entrelinhas do enredo, está lá tudo, arrepiantemente parecido com o que vivemos no presente: os conflitos regionais que escalaram, os extremismos a surgirem e a serem normalizados e até uma pandemia, a Gripe Espanhola (1918/1920). É incrível como passados 100 anos estamos a repetir os mesmos erros e à espera de resultados diferentes. Assim fica difícil!

Editor do Diário de Notícias    

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