O mercado foi muito mais eficaz a prever os resultados do que os cientistas políticos e as sondagens. Há várias semanas que havia sinais claros da vitória de Trump, dados pela valorização de ativos que tenderão a beneficiar da sua Presidência, nomeadamente o dólar, as ações e as criptomoedas..Os mercados de apostas também estavam a mostrar uma claríssima inclinação para uma vitória Republicana. Fica essa a lição para o futuro..Trump ou trumpismo?.A vitória de Trump em 2016 foi solitária. Inicialmente, não foi levado a sério e sofreu a rejeição de quase todos, incluindo do Partido Republicano. Mas a promessa “Make America Great Again” era poderosa e ia ao encontro do que as pessoas queriam ouvir, cansadas dos políticos convencionais. Já como presidente, os Republicanos foram alinhando com Trump, mais por necessidade do que por convicção..Em 2024 tudo foi diferente, com o Partido já rendido à persona e ideias de Trump. Ao contrário de 2016, não foi só Trump a vencer, mas o trumpismo, que já tem condições para sobreviver ao seu criador..A este propósito, é pertinente estar atento a J.D. Vance - será o seu provável sucessor e deverá tentar consolidar ideologicamente a nova proposta de valor republicana..Uma má ideia.Há ideias que são fáceis de vender porque parecem ser benéficas. Talvez uma das piores seja o protecionismo, cujas poucas vantagens são eclipsadas pelos seus inúmeros malefícios..O assunto justificaria mais explicações, mas destacam-se os seguintes impactos negativos: inflação, retaliação, ineficiência, menor, pior e mais cara escolha para os consumidores, maior poder de mercado para os incumbentes, diminuição do comércio internacional, redução do incentivo à inovação e menor acesso a tecnologia..Uma onda protecionista também resultaria numa incorreta alocação de recursos, mais ineficiente e menos justa, gerando desigualdade e dificultando a inclusão social e económica. Os mais desfavorecidos, incluindo os dos países protecionistas, pagam sempre a fatura mais alta..A luta contra o dólar.O dólar é um dos maiores privilégios dos Estados Unidos. Mas é merecido, porque assenta numa economia robusta, de grande dimensão, diversificada, de um país que segue a “Rule of Law”..Têm o maior poderio militar, mas é uma democracia liberal, com mercados financeiros profundos e líquidos e um banco central independente, entre outros motivos..Sem surpresa, os inimigos dos EUA, que não estranhamente também são inimigos da Democracia, têm defendido iniciativas para diminuir a importância do dólar. Os esforços mais recentes surgiram no grupo BRIC+, com Putin a lançar a ideia de uma plataforma de pagamentos que evite a utilização do dólar, algo que a China também tem tentado através de acordos bilaterais..Será bastante interessante ver como Trump irá lidar com o tema.