O imaginador
Leonardo Anastácio vive em Lisboa e é imaginador profissional. Foi dos primeiros a abraçar esta curiosa e tão vibrante profissão.
Quando a tecnologia já tinha ido longe demais, tornando o mundo um lugar seco e repetitivo, sem novidade e cheio de cópias, Leonardo lembrou-se, ou melhor, imaginou, como seria a vida na sua cidade se ele imaginasse coisas e conseguisse dar algo de novo às bestas sociais de neurónios preguiçosos em que nos tínhamos tornado.
E assim fez. Leu tudo o que havia para ler, desde Guerra e Paz, à Morgadinha dos Canaviais. Leu Tolstoi e Gombrich. Viu os filmes todos que havia para ver, leu poesia, ouviu Metallica, Wagner e Variações. Com o passar do tempo foi descobrindo que tinha ferramentas para se transformar num artesão do inconsciente, num maestro de composição de mundos e emoções, num mágico dos sentidos, criando novidade e intensidade nas vidas pachorrentas que levávamos.
Leonardo rapidamente superou os prompts da moda que alimentavam as plataformas de Inteligência Artificial e começou a ser chamado para trazer a todos o que ninguém tinha: fantasia.
Aprendeu a fundir as artes com a psicologia, abraçou a tecnologia, mas não a deixou comandar as ações e o pensamento, era ele que a comandava.
Leonardo intitulava-se um maestro de emoções, “alguém que desenha cenários, cria personagens e ludibria emoções e sentimentos para que as pessoas vivam de forma única e apaixonada” - explicava ele na primeira reunião com o cliente, quando tinha de reforçar aquilo que fazia.
Com o passar dos anos, começaram a aparecer mais imaginadores. Alguns até se especializaram em campos muito específicos da imaginação: os imaginadores viageiros eram os que se focavam em geografias utópicas e alternativas, os imaginadores obreiros eram os arquitetos do imaginário, especialistas em cidades e vivências quotidianas, e por fim os imaginadores trovadores eram os mestres do intangível e poetas da omnipresença.
Leonardo adorava o que fazia.
Saía sempre para trabalhar a meio da manhã, porque detestava as alvoradas. “De manhã não se imagina nada!” - lá dizia ele aos amigos e aos clientes de tempos a tempos. Eles riam-se, porque na verdade, ninguém estava treinado para imaginar coisa nenhuma. Só mesmo o Leonardo!