O fogo mais próximo de Rabat é Trancoso, não é Madrid!

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“A capital mais próxima de Lisboa em linha reta, não é Madrid, é Rabat – estamos carecas de saber”, mas regista-se de momento um início de cooperação Portugal-Marrocos, no âmbito do combate aos incêndios, que pode marcar o início de uma nova era. Para já, dois canadairs marroquinos, estão na frente de batalha e os rodapés dos noticiários assinalam todos o factor “essencial” desta ajuda. Já acontecera em anos anteriores, mas sem agradecimento, sem esta humildade. 

Esclarecer que esta crónica não é sobre Marrocos, é sobre Portugal e o que podemos aprender e valorizar, no imediato e mais prático, com um aprofundar da cooperação com o “Sul-Sul mais próximo”! 

Em primeiro, assumir que Portugal, os portugueses, não tem plano. Os portugueses não têm uma razão para acordarem cedo, lavarem a cara, fazerem a cama e sair à procura, ou na afirmação do “sonho português”! Já agora, qual é o sonho português, passada a fase do garrafão? 

Os fogos, unem e prendem os portugueses/as, como a Selecção, pelo coração, mas as décadas passam e os novos portugueses, com novas tecnologias e meios, não conseguem cumprir uma prioridade nacional! Talvez fazer deste combate, o grande desígnio dos portugueses/as deste século. 

Como fazer do combate aos fogos o projeto nacional, quando a Senhora da Agonia não tem o mesmo encanto sem um fogo-de-artifício de 400 contos? 

A primeira camada da resposta, está precisamente no taco! O governo precisa de criar o “fundo nacional para a pirotecnia responsável”, com aspas, mas a sério, já que a solução está toda no taco e fiscalização. 

A segunda camada da resposta, começa numa conferência de imprensa, no rescaldo de Pedrógão, 2017, quando um membro da Protecção Civil, lança o tema desta forma: “Isto terá de obedecer a mudanças muito profundas, mas também muito simples e deixo-vos aqui a pergunta, perguntem a vocês próprios, quando foi a última vez que comeram cabrito?” 

Os rebanhos de cabritos seriam quem naturalmente, efectuaria a limpeza das matas nos pontos inacessíveis ao homem/bombeiro. Consumir cabrito à refeição passaria, assim, a um acto político, uma inscrição no projeto nacional e uma validação do mesmo. 

Onde é que a cooperação com Marrocos aparece aqui? 

Estando ciente da impossibilidade de mudar hábitos por decreto, meu rico Portugal, foco-me nas possíveis soluções. Vejo estarmos a entrar na reta da meta até 2030 e esta ser a oportunidade de sugerir/forçar um maior consumo de cabrito através da promoção de eventos gastronómicos entre Portugal e Marrocos. Música e mesa, este é o momento e pode ter um propósito maior. Haja plano, cabritos não faltam! 

Politólogo/Arabista 

Professor do Instituto Piaget de Almada 

www.maghreb-machrek.pt 

O Autor escreve de acordo com a antiga ortografia. 

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