O caldo de cultura do terrorismo: extremismo e cegueira ideológica

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O ataque em Bondi Beach é o mais recente lembrete de que a ameaça islamista não é uma abstração, mas uma realidade global que se reinventa.

Na base deste radicalismo subsiste a matriz da Irmandade Muçulmana.

Como sublinhei no Diário de Notícias a 24 de setembro, esta organização, fundada em 1928, é um projeto político transnacional que articula doutrina e financiamento num ecossistema de influência global.

A sua oposição ao Estado de Israel e a legitimação da jihad armada alimentam braços operacionais como o Hamas, contando com o multiplicador estratégico da Al Jazeera e o apoio logístico da Turquia de Erdogan.

As consequências desta penetração na Europa são críticas. O relatório oficial francês do CIPDR (maio de 2025) alerta para a infiltração da Irmandade em mesquitas e estruturas educativas, erodindo a laicidade. Em sintonia, o Parlamento Europeu (2024) denunciou o papel do Catar e da Turquia no financiamento de agendas islamistas.

Esta subversão ganhou novo fôlego com movimentos como o Global Intifada e o Palestine Action.

No Reino Unido, a resposta foi clara: em julho de 2025, o governo proscreveu o Palestine Action como organização de índole terrorista, clarificando que a sabotagem de infraestruturas de defesa não é ativismo, mas um ataque à segurança nacional.

Na Europa, a fronteira entre liberdade de expressão e incitamento à violência é esbatida por setores da esquerda radical.

Ao adotarem termos como “Intifada”, importam códigos violentos que desumanizam o adversário, atraem indivíduos de índole marginal e criam um ambiente permissivo ao terrorismo de proximidade.

A doutrina da Democracia Militante recorda que direitos fundamentais não podem servir para destruir a ordem constitucional.

Distinguir o apoio humanitário da instrumentalização por redes que utilizam a solidariedade para branqueamento de capitais e apoio logístico é um imperativo jurídico.

O combate a esta ameaça exige identificar organizações extremistas e cooperar com comunidades muçulmanas moderadas. O desafio passa por detetar a penetração subversiva e silenciosa em associações de bairro, centros culturais, madrassas e locais de culto. É nestes espaços, sem supervisão estatal, que se moldam consciências e se alimenta a alienação identitária que serve o recrutamento.

Esta vigilância estratégica implica monitorizar financiamentos opacos do Golfo, analisar discursos bilingues, que prometem integração às autoridades mas pregam o isolacionismo nos contextos religiosos, e acompanhar as ligações entre movimentos cívicos e plataformas partidárias locais.

A infiltração em redes de solidariedade cria o caldo de cultura ideal para a subversão. Só uma resposta coordenada, que combine inteligência financeira e rigor jurídico contra o incitamento à violência, permitirá sustentar os valores democráticos e travar uma agenda que instrumentaliza a liberdade para destruir o próprio espaço onde floresce.

Analista de Estratégia, Segurança e Defesa

Diário de Notícias
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