O Ano da Serpente

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Em 2024, o S&P 500 subiu 23%, coroando a melhor sequência de dois anos num quarto de século, um desempenho que nem os agentes mais bullish conseguiam prever. E agora, o que se espera dos mercados nos EUA e da sua economia para 2025?

Os veteranos do mercado esperam que os ganhos persistam, mas a um ritmo menor, devido a dois fatores: a incerteza resultante da agenda económica do governo Trump, da inflação ou da próxima ação do Fed sobre as taxas de juros, e a preocupação de queda dos títulos inflacionados pelo fervor dos investidores, especialmente em IA. Nas suas expectativas o índice de referência sobe para pouco menos de 6.700 até o final de 2025, um ganho de cerca de 13%, o que, ainda assim, marcaria um 3.º ano consecutivo de ganhos anuais de dois dígitos para o S&P 500.

O argumento para a subida do mercado assenta na preservação em alta da despesa do consumidor e do investimento empresarial, em particular em I&D, impulsionando a rentabilidade das empresas e o crescimento económico. E há vários fatores a sustentar esta tese, por exemplo...

— o aumento de rendimento disponível das famílias;

— os ganhos de produtividade registados nos últimos anos, com a adoção crescente de cloud computing e da Inteligência Artificial;

— maior rentabilidade decorrente dos planos fiscais e regulatórios da nova Administração.

Mas este otimismo está longe de ser consensual e muitos analistas alertam para vários riscos:

— uma segregação no tecido económico resultante das políticas de Trump, especialmente a imposição de tarifas à importação: “Não são políticas de efeitos homogéneos, vão provocar uma divisão entre vencedores e perdedores nos EUA”, diz David Seif, chief economist na Nomura;

— o risco de aumento da inflação, resultante da visão de Trump em estimular o crescimento reduzindo a burocracia e estendendo os cortes de impostos, combinada com potenciais repressões à imigração, imposição de novas tarifas. A que acresce o protecionismo, a que acabámos de assistir, com o veto à compra da US Steel pela Nippon Steel japonesa que terá sempre custos associados;

— e o Fed, que levou o S&P 500 a cair quase 3% quando reduziu de 4 para 2 pontos a previsão de cortes de juros em 2025 com receio das pressões inflacionistas.

A questão central é saber até que ponto conseguirá Trump aprovar a sua agenda num Congresso controlado pelos republicanos. “Por mais animadas que as pessoas queiram estar com políticas pró-crescimento de Trump, a realidade é que muito disso será muito difícil de implementar”, disse Lisa Shalett, diretora do Morgan Stanley Wealth Management.

Em boa medida, serão os primeiros 100 dias da Administração Trump a marcar o rumo face ao seu efeito prático das suas políticas no terreno. E fora dos EUA, em particular na Europa, não vão ser dias para se dormir descansado.

Trump toma posse a 20 de janeiro. Nove dias depois a China celebra a entrada do seu Novo Ano, o Ano da Serpente. Uma curiosa coincidência.

Empresário, gestor e consultor

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