No Mali como na Nigéria – Mesma tática – Frentes opostas!

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A última semana não lusófona, em África, foi marcada por um “alerta Sahel”, a partir do cerco que o JNIM (Jama’at Nasr al-Islam wal Muslimin - Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos), a “voz de comando” da Al-Qaeda do Magrebe Islâmico, está a fazer, há mais de uma semana, à capital do Mali, Bamako!

O que é que está a acontecer, exactamente?

O JNIM parece estar a replicar no Mali aquilo que as autoridades nigerianas fizeram, no sentido de combater o Boko Haram. Tanto o Mali/Bamako, como o Estado de Borno, no norte da Nigéria, são hinterlândias cujo sustento depende de caminhos, que por vezes ganham a forma de estrada, o que provoca a possibilidade das “boas graças do alheio” ser levada à letra. Os grandes espaços permitem os grandes golpes!

O ponto comum entre Bamako e Borno é, sobretudo, a dependência de “gasolinas” que permitem o funcionamento de quase tudo. Na Nigéria, o exército começou a patrulhar as “estradas” e bloqueou a subida dos combustíveis até ao norte. De tal forma que o tráfico começou a ser feito em sacos de plástico, daqueles pretos, grandes, que utilizamos para o lixo! O número de explosões, mortos e queimados na estrada, aumentou exponencialmente desde 2019.

É exactamente o mesmo que o JNIM está a fazer a Bamako, fornecida por dois eixos principais, a partir do Senegal e da Costa do Marfim. Os “bamakenses parecem bandos de pardais a saltitarem de gasolineira, em gasolineira”, testemunhou um local, que também referiu um aumento de 400% no preço da gasolina e gasoil. Os efeitos na cidade são imediatos, já que muita da energia eléctrica é produzida a partir de geradores, que necessitam de combustível para trabalharem. Uma escola fechada na capital tem o efeito de um dia de chuva com maré alta em Lisboa! Desregula as rotinas todas, para além de projectar um sentimento de insegurança colectiva, cujo silêncio da Junta Militar do “poderoso Goita”, só aumenta, juntamente com a desconfiança incrédula de todos, sobre a falta de meios e estratégias, daqueles que apresentaram todos os diagnósticos e soluções em 2020.

O cenário é de camiões-cisterna em chamas na estrada, quando o “camiãojacking” se torna impossível e, também, ameaças à vida e às empresas dos principais fornecedores da capital. Tudo, perante o silêncio dos homens-em-armas que conseguiram expulsar os franceses, criando este vazio. É este o objectivo do JNIM, demonstrar, objectivamente, que o Mali “está entregue à bicharada”, desde que cumpriu a tática da nova independência, sem França e sem CEDEAO, para o cumprimento da grande estratégia. Qual, ainda não se percebeu!

Politólogo/Arabista

Professor do Instituto Piaget de Almada

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Escreve de acordo com a antiga ortografia

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